Crônicas

Sentir-se amado

        Sentir-se bem é estar em pleno gozo de suas faculdades. É compreender, mesmo que não se tenha as palavras necessárias para definir um estado de contentamento. É olhar para dentro de si mesmo e não encontrar nenhuma fórmula mágica para se definir, para entender o momento em que se está vivendo.
          Viver não é coisa para principiantes, porque viver é uma forma contínua de se conhecer, de entender o que nos cerca, não com a luz do entendimento e da razão, mas com o coração cheio de compreensões, bondades e olhar o ser humano não como inimigo, não como alguém a ser entendido, mas com os olhos vivos e atentos para ele.
          Aceitar alguém é entender seus problemas sem querer um dia vivê-los para compreendê-los. Aceitar o outro é ouvir, simplesmente, sendo o ombro para suporte, mas nunca para resolver as questões particulares de cada um. Porque sentir a paz consigo mesmo é não apresentar as nossas soluções para o outro, que deverá sentir dentro de si, e por moto-próprio, o caminho que deva escolher.
          A vida é caminhar, a vida é transportar para o futuro nossos sonhos e devaneios, mesmo que eles não se cumpram; simplesmente porque o homem que não sonha não tem direito ao futuro. E o futuro pertence a nós, nós o definimos, mesmo que não sejam alcançados os sonhos, mas são eles que nos movem da letargia do presente e nos desgarram do passado.
         E também o tempo, esse adversário das nossas ideias, dos nossos planos, caminhante e parceiro compulsório, sem cansaço a manter os mesmos passos cadenciados dos ponteiros dos relógios.
          Sentir a si mesmo é viver o próprio tempo e não o tempo dos outros, mesmo que estes outros nos prometam mares e terras ou a porta do paraíso. Sentir a si mesmo é um pouco do egoísmo interno, não compartilhado, um egoísmo que guarda no cofre os sentimentos, os segredos, as mentiras e as verdades que coletamos ao longo da vida. Sentir a si mesmo é perceber dentro de nós um abarrotamento de ideias, realizações, experiências, um tesouro amealhado ao longo do tempo, dos caminhos que compartilhamos com outros.
           Somente quando alcançamos essa plenitude damos o primeiro passo para entender o amor, tentar conquistar de alguém um amor real. E caso essa fatura não se dê, rasgar o contrato sem ressentimentos, sem amarguras ou cobranças. Livre da obrigação de amar, entendemos como é amar a nós mesmos, sem mentiras ou culpas. Sentir-se amado é primeiro sentir dentro de nós essa capacidade e, assim, estar pronto para receber o amor de alguém e ter o respeito, e se saber um sortudo, por alguém, por nós.

Fonte da foto: morguefile.com

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Nilson Lattari

Nilson Lattari é carioca, escritor, graduado em Literatura pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, e com especialização em Estudos Literários pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Gosta de escrever, principalmente, crônicas e artigos sobre comportamentos humanos, políticos ou sociais. É detentor de vários prêmios em Literatura

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