Crônicas

Lua

        Por certo a lua quando viaja pelo firmamento escuro, retirando o olhar luminoso das estrelas mais longínquas, e o seu brilho prateado invade as janelas, fico imaginando aqui comigo que os apaixonados quando se olharam nela, durante todos esses séculos, deram a ela, emprestado, os brilhos dos seus olhos enamorados.
        Se dois seres distantes resolvem combinar de olhar a lua ao mesmo tempo, conseguem conceber, por um momento, que seu encontro está no que há de mais distante, apesar de estarem pensando, separadamente, e desejando, um do outro, estarem perto.
         A lua tem um sentido de encontro, e se fosse um espelho no céu, por certo teria nele refletido muitos rostos, desde os amantes até os solitários. A lua parece ser o depósito de sonhos e de desejos, uma bola de adivinhação que paira no espaço, e muitas vezes míngua, outras vezes cresce, algumas vezes é inteira, em outros momentos desaparece.
        Algumas vezes as nuvens a escondem e a noite escura toma conta de tudo, mas a força dela é tão grande, que mesmo assim os enamorados, poetas, solitários e noturnos caminhantes podem percebê-la flutuando ali, bem perto.
       Foram anos de sucessivas tentativas até poder ser alcançada, e um pé foi deixado na sua fina camada de solo, não tão surpreendentemente branco, ninguém a habitando ou usufruindo dela. Leva na viagem as marcas das máquinas que lá chegaram, em busca de aventuras.
        Uma grande lâmpada acesa na noite, a acompanhar os bêbados, os meliantes, os amantes que dela se escondem nas sombras, e somente os seus olhares dirigidos para ela são os únicos a denunciar seu olhar vigilante.
        Quanta fantasia em torno do astro que, indiferente, cumpre seu ritual noturno. O bêbado conversa com ela, sentado na calçada, a olhar para o alto em busca da companhia prateada que levemente oscila.
        Desfazendo as imagens tolas, as inspirações poéticas que fizeram dela o depositário de imaginações. A lua e o sol, dois amantes a se perseguirem no espaço.
         Lua, lua, lua quantas vezes você passou por aqui e quantas confidências eu te fiz, e você levou, no guardado do espaço, bem longe de mim.

Fonte da foto: morguefile.com

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Nilson Lattari

Nilson Lattari é carioca, escritor, graduado em Literatura pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, e com especialização em Estudos Literários pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Gosta de escrever, principalmente, crônicas e artigos sobre comportamentos humanos, políticos ou sociais. É detentor de vários prêmios em Literatura

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