Opiniões

A arte de polemizar sobre coisas óbvias

        Estou acompanhando, embora a contragosto, porque as notícias vão chegando, e o conhecimento delas se dá pelas manchetes, esse caso do morador de rua e uma mulher em ato sexual. Fico triste em dizer que vivemos em um país, e acho que em um mundo, onde se valoriza tudo aquilo que é negativo. Me impressiona, sobremaneira, as pessoas, nestes tempos de selfies, aparecerem com fotos ao lado do morador de rua, assim como me chocaram as fotos que alguns tiravam com o ex-goleiro Bruno.
         Quanto aos dois casos não vou entrar no mérito de suas inocências ou não.
         O comportamento das pessoas é que me deixa impressionado. Acho que entre este público de “fans” não há inocentes. Todos foram informados e sabem com quem estão falando.
        Se não estabeleço o mérito de inocência ou não dos dois casos, o primeiro, do morador de rua, me parecem tétrico, grosseiro e nauseabundo. Primeiro a ida para uma rede do You Tube e aparecer em entrevista dando detalhes. Ali, não há inocência em quem dá vitrine para aquilo.
        Por outro lado, vi uma entrevista do marido da mulher, e a sua resposta diante do entrevistador surpreso de que se ele continuaria casado, ele respondeu que sim, porque conhecia a sua mulher, resgatou, dentro de mim, um pouco, mas um pouco mesmo, uma fé perdida. Ao contrário de toda a mídia dignificar um ato verdadeiro de alguém que ama, e não importa o como, me fez questionar, o que seria o mais recomendável: enaltecer a verdadeira condição de ser humano, em apoio à mãe de seus filhos e esposa ou a descrição mórbida de um morador de rua praticando sexo com uma mulher que, segundo foi esclarecido, tinha transtornos de saúde?
        Assim caminha a humanidade. Polemizar sobre coisas óbvias apenas para conseguir views é desumano. Ao contrário do morador de rua cair no esquecimento e ser acolhido por uma instituição própria, ou em caso negativo que ele continuasse a sua vida, o esquecimento caiu sobre uma atitude nobre de alguém que coloca seu casamento acima de tudo.
        Acho que como Rui Barbosa eu me senti careta. Mas envergonhado de ver muitas pessoas, principalmente mulheres, o que é mais deprimente, dando valor a fatos tão hediondos. Um dia teremos vergonha da honestidade, da hombridade e da ética, parafraseando o Rui.
         Assim que me sinto.

Origem da foto: Photo by Ludovic Migneault on Unsplash 

VOCÊ CHEGOU ATÉ AQUI. SE GOSTOU ENTÃO CADASTRE-SE NAS NOTIFICAÇÕES OU POR E-MAIL. E RECEBA, TODAS AS QUARTAS-FEIRAS, UM NOVO POST

Nilson Lattari

Nilson Lattari é carioca, escritor, graduado em Literatura pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, e com especialização em Estudos Literários pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Gosta de escrever, principalmente, crônicas e artigos sobre comportamentos humanos, políticos ou sociais. É detentor de vários prêmios em Literatura

Obrigado por curtir o post