Crônicas

Soberba

          Soberba é uma qualidade ou um defeito? Normalmente, a soberba está associada a um distanciamento de pessoas, ligada à arrogância e nunca poderia ser uma qualidade e sim um defeito. No entanto, por que seria defeito o fato de valorizarmos nossos feitos diante de outros? Se não diante de outros, porque não diante de nós mesmos?
          Poderíamos dividir a soberba entre aquela que mostramos aos outros e aquela que guardamos dentro de nós. Uma certa confiança em tudo que fazemos, realizamos e que nos torna corajosos para enfrentar as agruras do mundo, as adversidades, uma certa magia que nos envolve e nos torna seguros para seguir adiante.
         Alguns tendem a colocar seus feitos acima de qualquer outro, outros tendem a se esconder e a menosprezar as coisas que fazem. Alguns se julgam oceanos, profundos, enigmáticos, perigosos ou, simplesmente, belos. Outros se julgam espumas, um mero efeito da grandiosidade oceânica que se desfaz na praia.
         Não se pode medir a força do vento apenas com o leve ondular das folhas das árvores, e não se pode medir a força da água que cai quando apenas gotas se espalham pela terra.
        Assim, nossos feitos não podem se transformar em uma brisa, uma espuma de onda ou o gotejar da chuva. Por trás de tudo isso existe uma força imensa e contida pela natureza para, algumas vezes, demonstrar que é calma, tranquila e facilmente controlável.
       Nossos feitos têm uma soberba contida. Nossas pequenas vitórias são frutos de perseverança e vontade que controlamos. É uma força que desconhecemos e não deixamos, muitas vezes, que extravase e se espalhe. Não é possível se sentir tímido diante das possibilidades que temos para conseguir coisas no mundo, para enfrentar o mundo e suas adversidades.
       Os soberbos são aqueles que se julgam fortes como as tempestades, a profundidade do oceano e vendavais, sobretudo. Alardeiam a força que, muitas vezes, não têm. Propagam um escondido onde não existe nada, simplesmente, soberba.
        Nesse sentido, a soberba se desfaz no seu real significado: uma mera representação do que poderia ter sido e não é.
A verdadeira soberba não se demonstra, ela aparece na perseverança da continuidade das ondas e suas espumas, no úmido que se espalha pela terra, pelas miríades de gotas de chuva que se desfazem no chão e na brisa que é capaz de dobrar as maiores árvores, apenas demonstrando o que poderia fazer se desejasse.
     Quando nos maldizemos dos nossos fracassos, não podemos nos esquecer dos momentos que saímos à tona d’água. Fracassos e vitórias são inconstantes como as épocas de ressaca, de vendavais e tempestades.
        Todos passam, apenas os fracassos devem ser esquecidos e serem fontes de aprendizagem. E as vitórias, os troféus que amealhamos ao longo do tempo.

Origem da foto: Foto de Mihály Köles na Unsplash

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Nilson Lattari

Nilson Lattari é carioca, escritor, graduado em Literatura pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, e com especialização em Estudos Literários pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Gosta de escrever, principalmente, crônicas e artigos sobre comportamentos humanos, políticos ou sociais. É detentor de vários prêmios em Literatura

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