Crônicas

Ser sábio

        Qual aquele que não gostaria de ser sábio, de poder conhecer muitas coisas e elaborar outras? De ser procurado e dizer aquilo que o outro gostaria de receber como respostas? Ser um reverenciado e recebido como quem faz a diferença em tudo?
          Há momentos em que percebemos que por mais que vivamos nunca aprenderemos tudo que desejamos. A mente, também, em algum ponto, precisa de um descanso. Mas, basicamente, o que leva alguém a procurar aprender é um tipo de tormento que passa pela mente, uma dor que não sentimos, mas que está lá, nos esperando. É como uma porta que teima em ficar fechada e quando, finalmente, a abrimos, encontramos outra e outra. O conhecimento é um tipo de sem fim, um parafuso que roda o tempo todo e não chega a um término.
           E, finalmente, a gente se vai desse mundo e não chegamos a esse final. Não é morrer, mas percebe que nunca mais leremos coisas novas, conheceremos novos lugares e novos aprendizados. Aprender é, principalmente, ter uma autoconsciência, um conhecer de si mesmo. Essa busca é o atalho para a sabedoria.
           E nos tornaremos sábios? É claro que não. E qual o sábio que procura ser isso? Ele, antes de tudo, busca a si mesmo. Tenta compreender seu papel no mundo e como lidar com ele. Aprende com outros e aprende sozinho, testando a si mesmo quando confronta o que aprendeu com o aprendizado de outros. Essa é a chave para a criação da autoconsciência: tentar descobrir o que se é e o que fazer com o mundo.
           O saber é algo impossível. Porque o saber é uma evolução igual ao parafuso que roda infinitamente e não está preocupado em chegar a um final. A preocupação é daquele que o pega e tenta ver se há um final para ele. Conhece-te a ti mesmo é o clichê. Basicamente é isso mesmo. Se não conseguimos conhecer a nós mesmos, é uma pretensão achar que se vai chegar a algum lugar.
          Voltear o parafuso do conhecimento é como ler e reler o conhecimento e toda vez chegar a um final diferente. Porque as verdades são muitas. E o aprendizado é perverso, como uma toxina que tomamos e que não queremos largar. Conhecer é questionar, e as questões sempre serão em maior número que as respostas.
          Ter a autoconsciência é conhecer e beirar um limite que todos nós temos. Há momentos em que não conseguimos ultrapassar um obstáculo. Simplesmente porque somos diferentes entre nós e cada um tem o seu limite. Aquele que ultrapassa um limite dá aos próximos a chance de ir mais além.
      A principal lição da sapiência é não se julgar acima de todos, mas tentar ficar acima de si mesmo. Nossos limites devem ser ultrapassados por nós mesmos. Esse é o princípio do autoconhecimento e da sabedoria. E os limites estão definidos por aquilo que nos apaixonamos. A paixão é a principal ferramenta que o sábio utiliza para saber mais. Porque sem paixão nada pode ser feito e somente os apaixonados compreendem a beleza de tentar ultrapassar seus limites.

Origem da foto: Foto de Jaredd Craig na Unsplash

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Nilson Lattari

Nilson Lattari é carioca, escritor, graduado em Literatura pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, e com especialização em Estudos Literários pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Gosta de escrever, principalmente, crônicas e artigos sobre comportamentos humanos, políticos ou sociais. É detentor de vários prêmios em Literatura

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