Crônicas

Ser jovem, ser velho

        Como é difícil ser jovem e como é difícil ser velho! Algo em comum abastece a dureza de viver: o ser difícil. Difícil é ter sempre um obstáculo a ultrapassar, sendo a imaturidade e a falta de vivência para os jovens e a vivência dos mais velhos somados a uma eterna imaturidade também,, para entender o obstáculo.
      Ser imaturo é a causa das dificuldades tanto de jovens como de velhos. Aos jovens, a imaturidade está na própria busca da identidade, no encontro do conhecimento de quem se é, de verdade. Para os mais velhos, a imaturidade está na busca do tempo perdido, na frustração de encontrar no futuro aquilo que nunca pediu, e a tentativa de voltar no tempo, mesmo que em sonhos, em fantasias, já que na realidade isso não é possível.
         A realidade, então, passa a ser o elo de junção entre jovens e velhos. Viver o real, sem as fantasias, é doloroso. Enfrentar os desafios, o dia a dia, os desencontros, a busca de realizações no outro, colocar a culpa de fracassos em alguém ou alguma coisa, esquecendo que os tempos vitoriosos são somente frutos de um trabalho árduo, ou da sorte, ignorando que esses desencontros entre uns e outros, esse choque de convivência entre pessoas é que nos traz as perdas e também os ganhos.
        Essa contabilidade de sentimentos não é coberta pela maturidade. Essas idas e vindas do nosso cotidiano, que nos trazem as rotinas, a luta diária de vencer as dificuldades, é que nos trazem a verdadeira maturidade.
        A maturidade, assim, pertence aos vividos, que mesmo aos jovens que vivem intensamente, pode lhes trazer a maturidade antes do tempo, assim como desejar a volta no tempo é fruto da maturidade que ainda não chegou.
       Quando encontramos a maturidade, a encontramos em pequenos pedaços. Somos experientes na vivência ou na ausência de acontecimentos. Somos experientes e maduros para perceber que se vivemos algum fato, ele não se repetirá no futuro, mas nos prevenirá de tropeços, para evitá-los, os ignoramos e, mesmo sendo jovens, já somos maduros para aquilo. Ao mesmo tempo, mesmo sabendo do fato em momento errado, insistimos no erro, confiamos no acerto, como se a vida fosse uma loteria, e a cada vez que o tempo passa teremos a chance de acertar, esquecendo que a vida tem um fim, e não podemos viver de recomeços.
      É difícil ser jovem hoje em dia, como era difícil em outros tempos. É difícil ser velho hoje em dia, como será no futuro. As dificuldades são obstáculos que se tornam intransponíveis quando não sabemos o caminho das pedras. Esse caminho é não procurar o confronto quando ele não é necessário, como em alguns momentos ele pode ser.
        Amadurecer é aceitação, não derrota. É contornar o obstáculo com inteligência. E inteligência, calma, sobriedade podem ser qualidades tanto de jovens quanto de velhos. Mas a calma, o momento da espera que falta aos jovens sobra aos velhos. E a coragem de avançar, de superar obstáculos que sobra aos jovens falta aos velhos. O que é difícil é ser corajoso ou calmo nos momentos certos, mas nem tanto aos jovens e nem tanto aos velhos coube em algum lugar no tempo sabê-los. Portanto, as raízes das dificuldades não estão em ser jovem ou velho, mas entender o que é realmente dificuldade ou não.

Fonte da foto: morguefile.com

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Nilson Lattari

Nilson Lattari é carioca, escritor, graduado em Literatura pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, e com especialização em Estudos Literários pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Gosta de escrever, principalmente, crônicas e artigos sobre comportamentos humanos, políticos ou sociais. É detentor de vários prêmios em Literatura

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