Opiniões

Para tomar o partido da escola

       Não gostaria de meter a minha cumbuca na discussão da tal escola sem partido. Nas poucas linhas que tenho lido o que me chamou a atenção era sobre uma discussão sem o menor sentido e nenhum objetivo, apenas, como diria, causar borbulhas.
      No entanto, algo me chamou a atenção por esses dias, e não foram os objetivos pedagógicos do tema. O que me chamou a atenção foi o título do imbróglio: escola sem partido.
      A nossa escola, hoje, é sem salário decente para os profissionais, é sem condições de trabalho, onde os professores são ao mesmo tempo pais, mães, chefes de disciplina, os ofendidos, os agredidos, e os alunos sem educação, que deveria ser trazida de casa, ou sem pais e estrutura familiar. Além disso, a escola é sem alimentação adequada aos alunos, sem roupas para vestir, calçar os carentes.
     Nossa escola já é tão sem tudo, que agora, sem poder tirar, a escola deverá ser sem partido. E aí, entramos em mais uma questão: por que uma escola sem partido e não uma escola sem partidos, isto mesmo, no plural.
     Ninguém joga conversa e, principalmente, palavras fora. Desenvolvendo o tema, me veio aquela questão de atingir o sujeito, ou a sociedade no seu ponto mais sensível, no caso o bolso, e aí todos gritam. Neste caso, a manipulação procurar o ponto mais vulnerável: os filhos. Que estão na escola, é claro.
     Em um ensaio que tenho neste blog, uma peça que eu imaginei um dia desenvolver como tema de dissertação de mestrado, discuto o problema do market share, ou a reserva de mercado, e, naquele caso, o uso do discurso para abastecer de argumentos um determinado grupo. Nele, um dos capítulos fala do “Movimento dos sem-verbo”. Sem verbo seriam aqueles que descontentes com alguma situação política não têm argumentos para a defesa de suas teses, e aparece o guru, ou os gurus, pessoas articuladas, não encaro aqui a boa ou má intenção, que fornece os argumentos, as bases para uma argumentação. Não vou citar nomes, mas é muito fácil perceber as figuras exponenciais na questão, tanto jornalistas quanto pensadores.
     No caso da escola sem partido, como atingir a parcela da sociedade que tem horror da esquerda, de partidos ou pensadores ditos de esquerda? Não mais suficiente o pedido para que batam panelas ou usem camisas da seleção brasileira, por que não atingir o ponto de vulnerabilidade, os filhos, as crianças, seres indefesos diante da avalanche de argumentos contraditórios aos pensamentos dos pais?
      Apresenta-se a escola sem partido, resta saber qual o partido? Um doce?
   Muito bem, a conclusão poderia ser o seguinte. A luta ideológica, partidária chega ao seu momento mais deprimente. Usa-se a escola, onde as crianças ficam e a despeito de uma não, suposta, doutrinação ideológica, tirando tantas coisas já da instituição que se começa a retirar até aquilo que ela não tem. Teremos uma escola sem professores, afinal, já que os mesmos passariam a ser meros profissionais de cuspe e giz.
      Não é à toa a discussão, palavras não são jogadas de forma irresponsável, há uma outra formação, gurus em busca de sua reserva de mercado, onde poderão vender livros, palestras e comprar cargos políticos.
     Sério, o movimento seria por uma escola com participação dos alunos e pais, com condições de trabalho, com alunos educados pelas famílias. E poderíamos mudar o conceito para escola democrática, escola dinâmica, escola participativa, escola amiga, escola respeitada. E panelas seriam bem-vindas.
     Não se pode tirar partido da escola para alavancar interesses pessoais e políticos dos oportunistas de plantão. Que tal escola sem aproveitadores?

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Nilson Lattari

Nilson Lattari é carioca, escritor, graduado em Literatura pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, e com especialização em Estudos Literários pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Gosta de escrever, principalmente, crônicas e artigos sobre comportamentos humanos, políticos ou sociais. É detentor de vários prêmios em Literatura

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