Crônicas

O que são silêncios?

        Silêncios são maiores do que os gritos, que se esvaem na esplanada e se não encontram eco são quase nada. O silêncio se acumula de poesia quando nasce da mente do artista. Silêncio é lugar de sonhos, que nascem e se tornam tão grandes que não é mais possível guardá-los. Silêncios estão onde o revolucionário rumoreja sua estratégia. Silêncios são os guardiões dos sábios, quando lhes impede de falar quando não é necessário. Silêncios são grades diante do ignorante, que reverbera seu grito ameaçadoramente, e é refúgio daquele que se recolhe para pensar, imaginar, como permanecer surdo diante do barulho extremo.
        Silêncios estão naqueles que oram, e não nas vozes apocalípticas que tentam de vez silenciá-los. Silêncios estão em corações e mentes, onde é impossível matá-los e torná-los subservientes. Nos silêncios das verdades que descobrimos nas elaborações entre nossa mente e nosso coração, que não podem vir à tona com o medo dos preconceitos e do mundo hostil.
       Silêncios mostram suas faces nos sorrisos disfarçados, nas caras melancólicas e abaixadas. Silêncios se tornam facas afiadas quando surpreendem o inimigo no escuro das ruelas escuras e nubladas.
      Silêncios são as noites mal dormidas, silêncios são os medos dos poderosos, silêncios estão escondidos não em palavras, silêncios se escondem nos atos e nas reações inesperadas. Por isso que o opressor ataca aquele que em silêncio está, e a ele teme dar as costas.
      Silêncios são os inícios dos caminhos, são rumores, são os nascedouros de intrigas, silêncios são as moradas dos tímidos quando escondem os seus amores. Silêncios não nascem, silêncios se criam, são as barreiras dos heróis, antes do enfrentamento dos gritos alucinados.
       Em silêncio uma multidão caminha, e no silêncio se arma. Silêncio é a voz ausente, é a arma dissimulada.
     O perigo ou a ajuda, muitas vezes não está naquele que vocifera bravatas, mas naquele que observa de longe a melhor forma de entrar nas batalhas. É muito mais no silêncio da multidão ou do indivíduo ao lado, muito mais do que a arma, a denúncia que aquilo que se fala é uma crítica velada.
    O silêncio é a greve mais contundente. Ele é o condutor para o nada. Mesmo que o corpo esteja presente, a alma segue muito longe dali, procurando, de alguma forma, reagir ao algoz temerário.
      Quando dois ou mais silêncios se encontram no meio de uma luta, na verdade são aliados que conversam e articulam.

VOCÊ CHEGOU ATÉ AQUI. SE GOSTOU, ENTÃO CADASTRE-SE NAS NOTIFICAÇÕES OU POR E-MAIL. E RECEBA, TODAS AS QUARTAS-FEIRAS, UM NOVO POST

Nilson Lattari

Nilson Lattari é carioca, escritor, graduado em Literatura pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, e com especialização em Estudos Literários pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Gosta de escrever, principalmente, crônicas e artigos sobre comportamentos humanos, políticos ou sociais. É detentor de vários prêmios em Literatura

Obrigado por curtir o post