Crônicas

O caçador de comunistas, meu personagem de 2016

      Meu personagem de 2016 considera comunista praticamente uma assombração, e atribui ao nome, simplesmente, todas as definições com as quais não concorda, não pela força de argumentos, mas, pelo fato de não gostar, não achar bom, que se traduz como um imbróglio que vive dentro dele que na falta de expressar em palavras, detona na forma de palavrões, ofensas, ou qualquer arma que tenha à mão, normalmente fazendo textos longos, ou dizendo que isso é coisa de comunista, pondo fim às questões de forma incisiva, não vendo nisso nenhuma forma de autoritarismo.

      Meu personagem não é muito bom de cartazes, há uma certa confusão quando coloca sua indignação nas passeatas, onde se refugia com os seus, ou com outros que, muitas das vezes, estão lutando por causas diferentes, mas, o acolhe, na ânsia facebookista de ter muitos seguidores. Ele busca um herói que o defenda, ou defenda aquilo que lhe interessa e acha certo. Tem horror à cor vermelha, e acha que a bandeira verde e amarela é só sua.

      Deseja a morte do adversário ou o seu silêncio, até porque a ausência de um articulador adversário o desobriga de nunca deixar de ser o personagem de Raul Seixas, aquele que “tem opinião formada sobre tudo”.

      Sempre se coloca como o que é muito burro, e pede explicações aos seus oponentes, o que se transforma em um paradoxo, porque se o sujeito se coloca como um burro, por que alguma explicação seria importante?

      Ele consegue em uma concepção sócio-política unir todos em uma embalagem comunista, e se for perguntado sobre a definição da palavra, ou o que entende por ser comunista, responderá que é tudo isso que está aí, e se nesse tudo que está aí, ele não se inclui, presume-se que ele não seja nada. Mas, vai tentar explicar?

      O caçador de comunistas não caça comunistas, e sim qualquer coisa que ele ache que seja comunista, e, como último argumento, diz que desiste de conversar com o outro, que automaticamente taxa de petista, psolísta, e coisas do gênero, que, aliás, é um material bastante incandescente, porque gay, para ele, é uma forma comunista de se comportar.

      Sabe, perfeita, e rapidamente, definir o mau elemento, desde que ele seja preto, pobre, ou aquele que ousa defender os direitos humanos, coisa de vagabundo. Afinal, direitos humanos é um direito daquele que pode pagar um bom advogado.

      Seu destino de viagem é Miami, para os outros, Cuba, mesmo que nada lhe seja perguntado. Como bom caçador de comunistas, uma pequena ilha no Caribe, com um exército inexpressivo, e uma ditadura militar, é muito mais perigosa do que um imenso país, dono de uma força armada formidável.

      Enfim, o grande mérito do caçador de comunistas é que em uma discussão não lhe importa convencer, mas a sensação de que não foi convencido, porque afinal a sua opinião vale mais do que tudo.

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Nilson Lattari

Nilson Lattari é carioca, escritor, graduado em Literatura pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, e com especialização em Estudos Literários pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Gosta de escrever, principalmente, crônicas e artigos sobre comportamentos humanos, políticos ou sociais. É detentor de vários prêmios em Literatura

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