Opiniões

A hora de largar o BBB

A HORA DE LARGAR O BBB

     Execrado por uns, amado por outros que sonham acordados em pertencer a um mundo virtual, com direito a prêmio no juízo final, o BBB, programa da Globo, poderia ser assemelhado a um sonho brasileiro, bem diferente do pretenso sonho americano: como vencer na vida sem fazer força.
     Para isso não é necessário ter qualquer currículo acadêmico ou profissional; apenas aguentar humilhações travestidas de competições.
     Tamires pulou fora. Disse chega. Isso é bom. Está na hora do Brasil pular fora de uma arapuca armada na mídia, entregue ao seu bel prazer em demonizar ou angelizar movimentos e pessoas. Agradou? Palmas e troféus. Não agradou? O chamado é de fraqueza. Ou então, decepção, o mais provável, ao saber que, finalmente, alguém diz basta para um programa de baixa qualidade.
     Resta saber quando a população brasileira vai pular do seu BBB particular. Do sonho inalcançável de conseguir a independência financeira sem qualquer mérito, ou vontade de trabalhar.
     A vida é dura. E ela fica cada vez mais dura quando a capa da irrealidade, da fantasia criada pela mídia se desfaz, do mundo dos “vencedores”, descobrindo aqueles que ganham, realmente, o dinheiro sem fazer força, eternizado em heranças, ou a criação de fortunas por conluios com os governos, seja no passado, aliado à ditadura, ou com benefícios dados pelo BNDES, ou humilhando, bulinizando alguns para proveito próprio, detratando biografias.
     Partindo de um polo a outro, o futebol brasileiro, a preferência entre os brasileiros cada vez mais decresce. Motivo? Não tenho. Mas, o mais provável, é que passaram a existir outros caminhos para vencer na vida, principalmente quando o país, por uma década, alçou uma quantidade da sua população a um patamar econômico maior e, olhando, pela primeira vez, por cima do muro divisionário, vendo com seus próprios olhos e não com os olhos da mídia, a realidade de uma vida econômica melhor, decidiu mudar de vida.
     Desmontar a ficção do maior futebol do mundo, fazer do futebol ou de outro modelo semelhante a escada social é pular fora do BBB de cada um. Existe vida, vida real e possível além dos muros da “casa mais espiada do Brasil”.
     Tamires pulou do barco, onde o achincalhe a fez acordar. O povo brasileiro também pulou, vai exigir mais, enquanto panelas vazias ecoam pelos andares luxuosos, também vazias de sentimentos e de ideias, os habitantes de um BBB particular de ignorância e autismo com a realidade social do Brasil batem panelas, assustados, tentando espantar os espectadores que resolveram se tornar personagens no Brasil real, e a espiar a casa-grande pela primeira vez.
     Resolverá a elite econômica, ou que pelo menos acha que é, quando apenas são mãos alugadas para aplaudir o “lado certo”, pular do seu BBB para enfrentar os participantes da realidade do outro lado?

Nilson Lattari

Nilson Lattari é carioca, escritor, graduado em Literatura pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, e com especialização em Estudos Literários pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Gosta de escrever, principalmente, crônicas e artigos sobre comportamentos humanos, políticos ou sociais. É detentor de vários prêmios em Literatura