Crônicas

A chuva

     Existe algo mais democrático do que a chuva? Ou tão democrático quanto ela? Ela pode chegar de mansinho e derramar suas lágrimas igualmente. Ela pode chegar torrencialmente e afogar a todos, quer sejam ricos ou pobres. Ela arrasta desde a mansão mais nobre ou o barraco mais pobre.
        Quando alaga não interessa a ela se as coisas que destrói sejam decorações de palácios ou casas médias ou pobres.
        A água se imiscui pelas reentrâncias e nenhum poder a impede. Ela não se deixa conduzir quando a sua índole, o seu fazer natural a domina, e a natureza vingativa retoma aquilo que lhe foi roubado, ou é festejada quando chega ao solo seco e despeja dos telhados uma alegria que é festejada pelas ruas, com as pessoas a se banharem.
     A chuva se anuncia, algumas vezes é saudada ou bem-vinda, e, às vezes, é temida, é mal vinda, e não importa a origem dos olhares que a enxergam.
       Ela se anuncia num repente como a chuva de verão que nos surpreende. Ou é antevista pelos relâmpagos e trovões a iluminarem o céu.
       A chuva transborda os rios, alaga as ruas, enche os reservatórios, as represas e se transforma em riqueza que traz a água que nos mata a sede ou a intempérie furiosa que arrasta na noite sejam ricos, pobres, brancos ou negros, todos à procura de proteção.
      Para os desertos é coisa rara, para as florestas abundância, pune com suas regras aqueles que desmatam, e abençoa aqueles que peregrinam nas areias, e valorizam a água como tesouro descoberto.
     O aprendizado da chuva é enorme. Nas plantas que agradecem, no solo seco que rejuvenesce, no viajante que enfrenta a mudança, porque depois da tempestade vem a bonança.
     Quanta coisa nos traz a chuva, e, no entanto, são somente as nuvens a espremer o que lhes trouxe o sol. Quanta coisa nos traz a chuva e, no entanto, é apenas água que cai do céu.

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Nilson Lattari

Nilson Lattari é carioca, escritor, graduado em Literatura pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, e com especialização em Estudos Literários pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Gosta de escrever, principalmente, crônicas e artigos sobre comportamentos humanos, políticos ou sociais. É detentor de vários prêmios em Literatura

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