Crônicas

Sobre debates e coisas sem sentido

       Os debates estão popularizados nas redes sociais. E sobre eles temos os diversos níveis. São aqueles onde se discutem comportamentos pessoais, aqueles que tratam de temas comuns e aqueles que tentam e, raramente, conseguem, debater sobre ideias.
        Quando as questões pessoais são colocadas na discussão, rebaixando desde as pessoas comuns até as famosas, o debate se restringe a estabelecer mesquinharias como mote, como assunto. O comportamento pessoal de cada pessoa é reduzido a atitudes que não combinam com aquilo que elas são. É a discussão sobre um ato falho, sobre uma questão de vestimenta, sobre a maneira como se dirigiu a um funcionário de uma loja, de um restaurante, a atitude com alguém que passa e se acha no direito de dizer alguma asneira ou criticando o que o famoso fez. E isso se estende às pessoas comuns também.
        É o estágio da mesquinhez, assunto das pessoas que não sabem o que falam ou sobre o que falam e, portanto, a única alternativa é falar em nível suficientemente baixo para poder continuar debatendo.
        O outro nível é aquele onde são discutidos os problemas comuns, os fatos em si. Tentam estabelecer alguma conexão que leve à luz os problemas comuns que nos afligem a todos. Mas, isso não quer dizer que vão encontrar uma solução. Somente discutir os fatos apenas trazem a eles motivos para colocar na política ou nos políticos a solução. O que nunca vai acontecer. No entanto, neles também são incluídos os cientistas, os estudiosos que são reduzidos a meros participantes. E suas opiniões não são levadas em consideração. Porque mesmo que se discutam os fatos, no momento em que o debate será fechado, com um dos lados perdendo a razão, vem à baila a questão pessoal. E o debate, enfim, fica reduzido ao nada.
       Em um terceiro estágio teríamos as ideias. Debatê-las, colocá-las em questão em um nível muito mais elevado. Não há esperança quanto a isso, quando a seara da discussão é um terreno livre, sem regras, onde tudo se mistura.
        Não há sentido em debater utopias onde o que reina é o individualismo não participativo de um amplo campo de debates. Utopias necessitam de ar livre para respirar. E ninguém consegue respirar onde todos discutem sem razão nenhuma. Apenas pelo intuito de propagar falsos conceitos, amparados em coisa alguma.
         Nenhum sábio ou nenhuma pessoa que queira manter íntegro seu pensamento seria capaz de permanecer em um ambiente tóxico.
         A melhor maneira de permanecer lúcido é não embarcar na loucura de uma discussão aberta e sem regras.
         Aquele que tenta organizar ou esclarecer alguém ou grupo usando as regras civilizadas de uma conversa é pouco sábio consigo mesmo.
       Quem debate coisas sem sentido, mesmo que seja um sábio, não tem respeito por si mesmo. Afastar-se não quer dizer que uma missão não será cumprida. Porque o princípio do aprendizado é saber ouvir. E não creio que a audição seja a melhor qualidade entre os internautas com um teclado e a cabeça vazia para trabalhar.

Origem da foto: Foto de davide ragusa en Unsplash 

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Nilson Lattari

Nilson Lattari é carioca, escritor, graduado em Literatura pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, e com especialização em Estudos Literários pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Gosta de escrever, principalmente, crônicas e artigos sobre comportamentos humanos, políticos ou sociais. É detentor de vários prêmios em Literatura

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