Crônicas

Sentimentos pelo outro

        No mundo de hoje, onde a competição é incentivada em todos os segmentos, sentir alguma coisa pelo outro vira um sinal de derrota. Não é tomar o lugar de ninguém e assumir o lugar do outro como se fôssemos nós mesmos. Esse sentimento está em tentar compreender o outro e o seu lugar na sociedade.
        A tendência é considerar a humanidade dividida entre perdedores e vitoriosos. Incluindo aqueles que não têm a menor condição de subsistir por conta própria, no caso como perdedores. Eles são considerados perdedores pelo simples fato de terem o azar de nascer em uma sociedade mais despreparada, sem oferecer as mínimas condições para alguém se desenvolver e altamente discriminadora.
       No entanto, para os sortudos, aqueles que serão os vitoriosos, essa condição de perdedores é a culpa deles não dos vitoriosos. Sentir alguma coisa por eles torna os que sentem empatia perdedores também.
        Para sobreviver em uma sociedade assim é necessário ter uma consciência humana e social muito grande. E a propaganda dos vitoriosos teima em dizer que o mundo é mesmo assim, assim como ele é. Como um tipo de seleção das espécies.
        Chega ao ponto de que sentir empatia pelo outro é um sinal de fraqueza, e nos escondemos, alguns se envergonham disso, mesmo querendo demonstrá-la.
        No entanto, vitoriosos são aqueles que pouco se importam com a opinião alheia. É preciso ser muito corajoso, no mundo de hoje, para ser aquilo que, realmente, nós queremos ser.
      Chegar em alguma reunião e colocar opiniões contrárias é um ato de rebelião. Enfrentar os vitoriosos que, muitas vezes, fingem ter uma força que não possuem é um ato de coragem extrema. Chegamos em um ponto que ter sentimentos pelo outro vira um caso de perdedor, como já disse. É como se os vitoriosos jogassem no lixo coisas boas e sentimentos bons e somente a competição desenfreada, com vitoriosos demonstrando o que não são ou exibindo exemplos impossíveis de reproduzir, seria o único motivo para viver.
        O que é mais interessante é uma capa de moralidade e probidade que encobrem as atitudes dos vitoriosos. Qualquer arma é usada para se manter no topo, inclusive não sentir pelo outro mais nada.
        Será possível ter uma vida, pensar em um futuro, onde a competição se mantenha e haja igualdade para competir? E, muitas vezes, parece ser uma competição completamente fictícia porque os vencedores serão os mesmos, sempre. Estabelecer uma competição desleal apenas para que sirva de pano de fundo para os vitoriosos?
      Esse tipo de competição é forçada justamente por essa falta de sentimentos pelo outro. Como pensar em competição quando o despreparo é grande e a fantasia que se vende da possibilidade de vencer de fato não existe?
        Sentir pelo outro é uma maneira de romper com isso. Resta encontrar a coragem suficiente para que ela se realize.

Origem da foto: Foto de Hello I’m Nik en Unsplash 

VOCÊ CHEGOU ATÉ AQUI. SE GOSTOU ENTÃO CADASTRE-SE NAS NOTIFICAÇÕES OU POR E-MAIL. E RECEBA NOVOS POSTS.

Nilson Lattari

Nilson Lattari é carioca, escritor, graduado em Literatura pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, e com especialização em Estudos Literários pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Gosta de escrever, principalmente, crônicas e artigos sobre comportamentos humanos, políticos ou sociais. É detentor de vários prêmios em Literatura

Obrigado por curtir o post