Crônicas

Quem se sobressai?

      O título poderá parecer estranho, mas a pergunta seria quem se sobressai entre muitos e por quê? Adquirir conhecimento é uma atitude trabalhosa. Não dá para saber de tudo, nem dá para saber de tudo um pouco, sendo que o mais fácil é saber um pouco de tudo. Será válido isso?
       Hoje, de acordo com as redes sociais, dizer que não sabe alguma coisa e, portanto, não ter opinião sobre alguma coisa, funciona como um atestado de incapacidade. Afinal, você tem que ter opinião sobre tudo, mesmo que você nunca tenha estudado aquilo ou ao menos ter vivido alguma experiência que remeta, por mais longínqua que seja, ao assunto em questão.
         A ciência é contestada a todo momento. E não é uma contestação com argumentos. Mas é uma luta insana contra o conhecimento. E as opiniões que visam desmerecer isso são estapafúrdias.
      Fico imaginando alguém, oculto pela rede, manifestando opiniões contraditórias com o mero efeito de “causar”, irritar. E fico imaginando, também, a paciência de alguns que são conhecedores tentando explicar o óbvio. Do primeiro lado, imagino alguém rindo muito pelo simples prazer de irritar o outro. E no segundo lado, aquele que queimou suas pestanas nos livros achando que vai conseguir alguma coisa.
         É uma luta insana, como disse.
        Quem se destaca leva martelada. Quem tenta demonstrar alguma coisa leva pedras atiradas por alguém oculto na rede. Vale a pena isso? Vale a pena desgastar-se com alguém que vive somente para irritar e causar confusão?
        Há momentos em que alguns, e eu me incluo, desiste do mundo. O mundo, realmente, é dos fracos. Daqueles que preferem nadar no terreno da ignorância e do conhecimento de ter opinião sobre tudo e não ver o tiro que dá em sua própria perna.
      É claro que alguns usam o conhecimento que têm para subjugar o outro. Há grupos que usam as redes nas buscas de construção de memes, opiniões simplórias sobre assuntos complexos. E esses é que dominam o mundo. Aliás há muito tempo. A diferença, agora, é que eles podem contestar com o seu conhecimento raso e suficientemente irritantes. O fraco despreza aquilo que ele desconhece. E, principalmente, não se dá ao trabalho de tentar conhecer. Porque isso demanda esforço e tempo. Tempo onde acham que o único investimento é, apenas, a ânsia de ganhar dinheiro.
        Ao se posicionarem como os espertos e os especialistas sobre tudo, caem, como patos, nos contos de enganação de outros. Porque aquele que não lê vai ter que acreditar naquilo que os outros dizem. Não há alternativa.
        Fraco é o ignorante preguiçoso, aquele que, por preguiça, jamais vai buscar suprir sua ignorância. Aqueles que acham que um diploma na parede é mais do que um diploma na parede. Na verdade, aquele papel não é nada. É apenas uma autorização legal para cumprir uma profissão. Se ela não tem continuidade, a educação recebida pelo diploma com o tempo se esvai no ar.
       Quem se sobressai no mundo é aquele que, no seu canto, aprimora o seu conhecimento e ri, às escondidas, da ignorância que um microfone é capaz de seduzir.

Origem da foto: Foto de Toa Heftiba na Unsplash 

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Nilson Lattari

Nilson Lattari é carioca, escritor, graduado em Literatura pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, e com especialização em Estudos Literários pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Gosta de escrever, principalmente, crônicas e artigos sobre comportamentos humanos, políticos ou sociais. É detentor de vários prêmios em Literatura

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