Opiniões

Papa Francisco: a bola da vez

PAPA FRANCISCO: A BOLA DA VEZ

     Depois que o Papa Francisco costurou um acordo entre os EUA e Cuba, e omitiu uma opinião sincera, sensata, sobre os limites da indecência, porque o humor ou qualquer outra palavra que ultrapasse o limite da decência são recebidos com um sorriso amarelo, mas, da indecência acende-se o sorriso vermelho, a direita brasileira se assanhou com a possibilidade de perder discurso.
     A censura é sempre exercida por aqueles que detêm um poder, ou um tipo de poder, e a necessidade de mantê-lo é sobrevivência.
     Normalmente, o censurado é aquele que precisa de um canal de comunicação para o mundo, para a sociedade em que vive, e é impedido de alguma forma de exercê-la. Imaginemos uma sociedade onde o indivíduo precisa denunciar uma forma de opressão, não importando que ele tenha razão ou não, mas a própria situação de colocar seu estado em debate é uma forma de verbalizar os seus argumentos. Ele é impedido de várias formas: por impedimento físico, através da dor e do sofrimento; do impedimento moral, na forma de uma chantagem qualquer ou, simplesmente, dando a ele o direito da voz, mas o impedimento material de se igualar o cala.     Discurso, neste caso, é a existência do Grande Irmão, aquele que tudo observa e conduz, mantendo os adversários nas cordas com a mente assustada da população contra o inimigo externo.
     Caso não haja, cria-se. Portanto, para manter a população brasileira acuada, resistente aos arautos da liberdade, de fato, com a justiça social e a igualdade, porque igualdade assusta aos mais abastados e às elites, e não são elites econômicas, mas elites que têm o poder de influenciar, principalmente através da mídia controlada por um grupo de famílias, que não veem a igualdade como uma coisa boa, porque é egoísta por natureza, o discurso religioso entrava como freio.
      Com o Papa Francisco se declarando em posição política clara, e contrapondo, até certo ponto, ao Papa João Paulo II, que arquitetou a queda do comunismo na sua Polônia, e por isso reverenciado pela direita – isso poucos perceberam -, a direita ficou barata tonta, sem o respaldo para os seus discursos racistas.
     É engraçado como, a longo prazo, essa direita nervosa está se aproximando das igrejas fundamentalistas. Um casamento bem possível, já que os seus discursos de terror vão acabar se encontrando lá no horizonte. E esta direita, corroborada pelos discursos religiosos raivosos e sem noção, representa o perigo político no futuro.
     A coisa boa é que, finalmente, o Vaticano está escolhendo claramente um lado, sem interpretações: igualdade, de fato.

Nilson Lattari

Nilson Lattari é carioca, escritor, graduado em Literatura pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, e com especialização em Estudos Literários pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Gosta de escrever, principalmente, crônicas e artigos sobre comportamentos humanos, políticos ou sociais. É detentor de vários prêmios em Literatura

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