Crônicas

O que almejamos no mundo

        O dinheiro é o que muitos buscam no mundo. Tê-lo em abundância significa poder sobre as coisas e sobre as pessoas no entorno. A bajulação é o prêmio que recebe aqueles que conseguem amealhá-lo em grande quantidade. Eles passam a ser os novos modelos a serem seguidos, seus passos serão aqueles repetidos por muitos, em busca do pote de ouro no final do arco-íris. Essa abundância é suficiente em si mesma?
         O que é ser abundante na sua vida, que você tenha em profusão e seja, para você, o principal, o alvo primordial a ser atingido?
         O que faz de você uma pessoa viva e atuante, testemunha de sua geração, que faça de você, realmente, uma pessoa rica?
         É claro que vivemos em um mundo onde a necessidade de sobreviver tem muito a ver com o dinheiro e as posses que se tenha. A busca do amealhar é um tipo de garantia para o tempo de aposentadoria, onde o vigor físico já não será mais o mesmo, e o próprio mercado exclui aqueles que são “ultrapassados”. O velho será o velho quando um novo se apresenta. Não necessariamente um velho é o ultrapassado e nem mesmo o jovem é o mais avançado. E, no mesmo passo, a abundância não necessariamente é ter muito ou mais além daquilo que você possa usufruir.
        A palavra-chave na questão é como você goza e usufrui daquilo que você tem em abundância. O que você tem de melhor dentro de você mesmo que faz com que você possa gozar e usufruir em abundância?
       A forma como vivemos a vida e dela tiramos proveito não se coaduna com a abundância material que se possa ter. No entanto, sem um suporte adequado não conseguimos usufruir a vida que há em volta.
        Se há abundância material em alguém ou em um grupo, outro alguém ou outro grupo vivem abaixo das suas necessidades. E quem tem abundância em alguma coisa terá tempo na vida para usufruir e consumir tudo que tem?
       Se no mundo fosse possível equacionar aqueles que têm tudo em abundância com aqueles que apenas querem usufruir a sua vida, criando uma situação confortável para todos, isso, quem sabe, levaria todos a desacelerar seu ritmo e apreciar e usufruir tudo à sua volta.
     Ter em abundância e perseguir a todo custo, cada vez mais, é um tipo de egoísmo, como se tirasse do outro a oportunidade de ter a sua situação confortável. Estimular uma suposta concorrência para que todos busquem o máximo de riqueza impede as pessoas de raciocinar sobre seu próprio tempo.
     Meus modelos são aqueles que recusam essa luta e apenas se preocupam com o viver, com o usufruir do seu tempo para si e para os seus. Evidente que dependemos de alguns empreendedores que gostam desse tipo de luta. São os aventureiros, são aqueles que lançam ideias e melhoram nossa qualidade de vida. Mas, se eles têm tanta abundância e uma “sorte” em conseguir o máximo, o usufruir da vida, por que, para eles, é mais importante manter os outros sob seu comando, em lugar de direcionar sua vida para explorar o que tem de melhor?
        A abundância sem o desejo de usufruir e gozar dela é, apenas, uma maneira de demonstrar egoísmo.

Origem da foto: Foto de Egor Myznik en Unsplash 

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Nilson Lattari

Nilson Lattari é carioca, escritor, graduado em Literatura pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, e com especialização em Estudos Literários pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Gosta de escrever, principalmente, crônicas e artigos sobre comportamentos humanos, políticos ou sociais. É detentor de vários prêmios em Literatura

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