Crônicas

Negócios, apenas negócios

        Há o dito popular sobre amigos amigos, negócios à parte. Nada mais justo. Afinal a amizade não pode se sobrepor aos interesses, ao lucro e aos negócios. Na vida real isso quer dizer que quando o assunto é ganhar dinheiro dá para passar por cima da amizade e ir direto ao ponto: dinheiro.
         Nesse raciocínio, o dinheiro fala mais alto e que as amizades sejam deixadas de lado.
        A História é cruel porque é feita pelos homens, mestres na crueldade contra si mesmos e contra os outros. E a história das amizades através dos tempos demonstra que elas são tênues e frágeis. Inclusive entre países, os interesses se sobrepõem, apesar das reiteradas mensagens de fraternidade que os governos enviam entre si. Em adoráveis e cândidos encontros, com apertos de mãos e abraços afetuosos, emoldurados por sorrisos em profusão.
       Em tempos furibundos como hoje, as amizades têm um traço de fragilidade fora do comum. Muita fantasia em torno de grupos de amigos se desfaz ou vai se desfazer por força de um interesse interior que nada tem a ver com o dinheiro ou a ambição. OU, além disso, a postura de sobrepor, sobre os demais, uma conduta de vida que só existe na cabeça de alguns. Nenhuma amizade pode resistir a uma onda de insanidades. Mesmo o melhor amigo não pode se conformar que aquele que conheceu durante muitos anos tenha, de fato, um monstro adormecido dentro de si. E, por outro lado, o mesmo, até então adormecido, se torna um atormentado perseguidor daqueles que viviam acreditando “que o mundo é bom e a felicidade existe”.
        Como pode existir felicidade e coexistência quando as ruas já não são mais as mesmas, e os sonhos utópicos já não encontram lugar para serem colocados. Se o novo mundo é um negócio bom para todos, na visão dos sonhadores, há sonhadores do outro lado que imaginam esse mesmo mundo bom e justo, a partir dos valores pessoais que cultivam na solidão dos seus pensamentos.
        A amizade pressupõe um acordo entre alguns, corroborando que a fidelidade de um ao outro será para sempre. Mas há um negócio que envolve tudo. Perseverar em um modelo de vida que não é tão bom para todos, porque nem sempre o que é bom para um e outro é o bom para todos. A impossibilidade de se estabelecer este contrato impede que qualquer negociação se realize. E nem mesmo a amizade antiga pode selar este contrato.
      Amizade é uma palavra que anda na boca de todos. Afinal, é melhor ter amigos, muitos amigos, em um mundo onde a baixa estima anda rondando os lares e, portanto, nada melhor do que ter amigos para negociar.
        Negociar novos tempos, abandonar velhos rancores e colocar o dedo da vingança adormecido em algum lugar bem escondido.
       Nem todo negócio é bom para todos, porque, de fato, a máxima de que por pior que a situação esteja ela perdura porque tem alguém ganhando com ela.
     Não é fácil ter amigos em tempos de sobrevivência. Tentamos sobreviver negociando todo o tempo com as adversidades. Até o dia em que entendermos que negócios são apenas negócios e a verdadeira arte de negociar é preservar amizades, aparando arestas nas partes áridas dos nossos pensamentos para, enfim, chegar a um lugar-comum: o ambiente ideal onde um negócio será o melhor para todos.

Origem da foto: Foto de krakenimages na Unsplash 

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Nilson Lattari

Nilson Lattari é carioca, escritor, graduado em Literatura pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, e com especialização em Estudos Literários pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Gosta de escrever, principalmente, crônicas e artigos sobre comportamentos humanos, políticos ou sociais. É detentor de vários prêmios em Literatura

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