Crônicas

Inveja de quê?

        É possível tornar alguma coisa negativa em positiva? Há maneiras de encontrar pontos positivos em situações de negatividade? Com palavras e atos tudo é possível, dependendo da maneira como olhamos as coisas ou as empregamos, em proveito próprio ou não.
      Frequentemente, as pessoas são bombardeadas com alguma nova proposta para solucionar todos os seus problemas. Aparecem os gurus, os especialistas, os Youtubers e os famosos palestrantes que enchem estádios e teatros pelo mundo afora.
        Afinal, o que faz ou que estratégia essas pessoas adotam para transformar uma coisa ridícula, um nome, na chave do sucesso, coisa que até então nunca te contaram porque seria o segredo dos ricos e poderosos?
        De vez em quando, aparece alguma celebridade ou candidato a tal apresentando uma solução que você nunca havia pensado antes. Aliás, você nunca se deu o trabalho de saber que sequer ela existisse, portanto, como faria falta, não é mesmo?
      Há uma técnica muito interessante de usar determinados termos para torná-los essa chave que gira o sucesso de todos. Imaginemos uma situação qualquer, uma palavra desprezada e desqualificada como a inveja. Inveja não é uma coisa boa. Sentir inveja é desejar o que o outro tem, tomar do outro o que se julga ser sua propriedade.
        Bem, para que alguma treta dessas seja fato é necessário que ela seja inserida em alguma forma aceita pela sociedade como funcional. Por exemplo, uma carreira profissional ou uma religião. Todos têm um anseio profissional ou tem um deus para chamar de seu, ou participar de um grupo religioso. Para inserir essa palavra, inveja, é necessário construir, para ela, uma história de positividade. Normalmente, a busca se dá em algum pensador grego não muito conhecido que tenha, de alguma maneira, falado sobre ela e é claro de forma positiva. Pode ser uma história muito antiga contada por alguém. Depois descobrir alguma palavra ímã, que atrai e fixa na mente de todos. Poderia ser alguma expressão em inglês que causa um bom efeito como focus. Alguém ousaria dizer que focar em alguém não seria uma forma de invejar, de copiar?
        A partir disso, essa forma de pensar tem que ser inserida nos consensos aceitos, como a carreira profissional ou a religião. Encontrar dentro delas alguma atitude que a torne crível, que seja coerente. Focar no seu trabalho, copiando e “aprendendo” com o outro o tornará melhor. Focar em um objetivo espiritual para atingir seu pleno o tornará melhor.
        Depois disso, com certeza, em um mundo com bilhões de seres, um grupo seleto, porém bem grande será a audiência de transformar a inveja em alguma coisa positiva, principalmente para o mentor disso tudo com livros e palestras.
       Não é tão difícil. Afinal há muitas pessoas prontas para receber algum ensinamento novo que as distancie dos demais. Esses mantras serão repetidos ao extremo e causarão espanto para quem os vê, os lê, simplesmente, como armadilhas para pegar tolos. Afinal, alguém te contou um segredo milenar que seja o motivo para o crescimento de certos privilegiados?
      Estar distanciado de todas essas coisas nos tornam melhor ou mais apreensivos? Afinal, quando ouvimos alguns falarem desses sucessos, destino, também, de muitos fracassos, ainda ousamos imaginar esses outros propagando essas ideias dizendo, quando os ouvimos perplexos: inveja, né? E nós perguntaríamos: mas inveja de quê?

Origem da foto: Foto de Jametlene Reskp en Unsplash 

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Nilson Lattari

Nilson Lattari é carioca, escritor, graduado em Literatura pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, e com especialização em Estudos Literários pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Gosta de escrever, principalmente, crônicas e artigos sobre comportamentos humanos, políticos ou sociais. É detentor de vários prêmios em Literatura

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