Crônicas

Erros e acertos

        Erros e acertos são portas que se fecham e se abrem durante a nossa trajetória pelo mundo. Viver é abrir portas, sucessivamente, até que chegamos ao final do corredor. Algumas vezes, podemos reabri-las para retomar a caminhada por outros cômodos. Mas quando retornamos, aquele lugar não é mais o menos, porque os parceiros e o lugar foram abrindo outras portas e continuaram suas vidas. Por isso, o retorno ao passado nunca poderia acontecer. Aqueles que magoamos, abandonamos ou amamos foram seguindo a vida magoando, abandonando e amando outros.
       Se observarmos, com perspicácia, algumas portas foram pequenos milagres em nossas vidas. Quantas vezes não operamos nossa trajetória, mas o destino foi abrindo portas sem que pedíssemos e, no entanto, alguns recusaram a oferta e a porta não se abriu mais, outros aceitaram o destino e foram viver em lugares diferentes que habitavam suas imaginações e maquinações. Podemos dar o nome de sorte, azar, milagre, coincidências, podemos nomear como queremos, mas são portas que as oportunidades nos oferecem.
        Ninguém é adivinho, ninguém está no controle de nada. Vivemos em uma sociedade onde cada sujeito opera de acordo com suas convicções, suas estratégias e suas possibilidades. Se imaginarmos a vida funcionando, ouviremos uma sucessão de abrir e fechar de portas com o fluxo ininterrupto de pessoas. Quem poderia controlar, de verdade, seu destino?
        A menos que nos afastemos da sociedade, do grupo, da família, poderíamos operar nossas portas, mas também correríamos riscos muito além da nossa capacidade de atuar. Nossa sociedade funciona nessa sucessão de aberturas e fechaduras de portas e nos cabe ficar atentos para passar por ela, mesmo que seja por um triz.
        Erros e acertos são custos e benefícios, nada mais do que isso. Nos culpamos por alguns erros e nos regozijamos por alguns acertos. No entanto, errar e acertar têm mais a ver com a falta de experiência. Erramos e acertamos por falta de experiência e por experiência fazemos as mesmas coisas ou não.
       Se erramos ou acertamos é porque na inversa proporção outros fizeram o mesmo. Isso é terrível, porque os nossos acertos, se pensarmos bem, foram as perdas de oportunidades para outros, e assim nossos erros também.
        Errar e acertar têm a ver com a nossa ambição diante do mundo. Os perseverantes, um dia, acertarão, porque persistiram na ideia. O errado seria não tentar e desistir na primeira derrota. Logo, erros e acertos têm a ver com as sucessivas tentativas em procurar nossos objetivos. Tentar é errar e acertar, ou então desistir de continuar a viver, procurando um lugar onde a ambição e a perseverança não existem.

Origem da foto: Photo by Tyler Nix on Unsplash 
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Nilson Lattari

Nilson Lattari é carioca, escritor, graduado em Literatura pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, e com especialização em Estudos Literários pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Gosta de escrever, principalmente, crônicas e artigos sobre comportamentos humanos, políticos ou sociais. É detentor de vários prêmios em Literatura

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