Opiniões

As pessoas de bem que só pensam “naquilo”

        A última performance do último Ministro da Educação, que é a prova cabal de que a fila, realmente, anda, foi dizer que a universidade ensina o “sexo sem limite”. Volta e meia e meia volta volvem, me permitam a referência, o assunto sobre “aquilo” em que todos pensam. Claro, também temos a questão de a universidade ser o centro de consumo de maconha, balbúrdia e outras coisas mais.
      Não sei se é falta de, excesso de ou culpa por. Mas, a grande questão seria por que essas pessoas de bem ficam o tempo todo fazendo a referência “naquilo”, faltando revirarem os olhos.
        Imagino que seja uma tática que desvia o assunto sério que é a educação no país, assim como os direitos humanos, a economia, meio ambiente e etc. É a mesma do boneco inflável que fica abanando os braços nos postos de combustíveis, atraindo a atenção, e, no caso, desviando a mesma.
        Junto outros fatos que podem ser observados sobre políticos ditos de esquerda, quando são entrevistados, ou intelectuais que não fazem parte “daquilo”, a tática é não permitir que concluam o pensamento, tentando confundi-los, por medo de convencerem alguém a não pensar “naquilo”. E eu me pergunto: Para que alguém com pensamentos diferentes do pensamento midiático insiste em comparecer a esses eventos? Adoração por ser espancado? Os mais recentes exemplos foram do ex-ministro Haddad e da ex-deputada Manuela D”Ávila. O que observamos é que a distância intelectual é grande o suficiente para que não haja o debate. Os mesmos bonecos infláveis chamando a atenção: você pode falar “naquilo” ou não deixar que falem nada. E tudo parece bem.
       Encontrar bonecos infláveis no mercado parece uma tarefa bem tranquila, afinal é somente separar aqueles que estão dispostos a condenar “aquilo” e alimentar aqueles que só pensam “naquilo”, plenos de pensamentos pecaminosos, ou fazer espalhafato para que ninguém fale nem “naquilo” ou naquilo.
        No fundo parece ser a velha tática da tergiversação para abrir a porteira e tentar passar a boiada. Poderiam ser relegados ao segundo plano e não divulgar suas falas. Mas, a divulgação das falas garante likes e compartilhamentos, e vendem como as manchetes sensacionalistas dos jornais. Aliás, falar “naquilo” sempre rendeu excelentes performances de divulgação. Desde a boazuda que vendia pneus na borracharia até os artigos falando de problemas nas partes íntimas e algum especialista respondendo.
        Portanto, falar “naquilo” sempre deu Ibope. O importante é não falar, seriamente, naquilo que o país necessita: diálogo franco e honesto sobre os nossos problemas.
        Não me preocupa isso, afinal. O assunto sexo está presente até nas nossas ausências, mas, o fato de alguém se prestar a isso, a representar esse papel é o ponto. E a produção de bonecos infláveis, ao que parece, é um mercado em ascensão.
       O problema é na educação. A naturalização da ignorância, como projeto de poder, é uma constatação. As pessoas que só pensam “naquilo” dominam o cenário. Mas, esperamos que elas e a doença pandêmica passem. Contra a segunda a possibilidade de uma vacina, para a primeira o ostracismo, e que elas voltem para seus esconderijos, onde continuem a pensar “naquilo” e, quem sabe, no meio “daqueles” encontrem seus ideais e não se tornem pandemias incuráveis.

Fonte da foto: Photo by Nathan Dumlao on Unsplash

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Nilson Lattari

Nilson Lattari é carioca, escritor, graduado em Literatura pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, e com especialização em Estudos Literários pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Gosta de escrever, principalmente, crônicas e artigos sobre comportamentos humanos, políticos ou sociais. É detentor de vários prêmios em Literatura

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