Opiniões

A precificação do desastre

A PRECIFICAÇÃO DO DESASTRE

     Uma das formas que o mercado (não o de gôndolas, prateleiras), mas aquele que estabelece hierarquias entre ativos, colocando na primeira prateleira ativos atraentes, na segunda prateleira empresas rentáveis, mas, de perfil conservador, e na terceira prateleira, fronts de especulação, volatilidade de preços, ganhos e perdas expressivos utiliza para determinar rumos e preços, se chama precificação.
     O termo precificar não vem do preço em si mesmo. É um valor metrificado pelos agentes econômicos que colocam um preço, de acordo com os seus interesses, normalmente quando se está diante de uma crise, ou de um momento de excitação. Seja essa crise o momento de transformação, de adequação à realidade ou não. Portanto, a precificação se realiza nos momentos ou de euforia ou de pessimismo.
     Assim sendo, a precificação é aleatória, não reflete a realidade dos preços e apenas está entregue aos humores e interesses do mercado.
     As recentes mudanças no comando da Petrobrás é um exemplo para essa precificação.
     Senão, vejamos: os preços das ações despencaram, disse a FSP. Vieram de 10,02 para 8,65 reais. Despencaram, e aí vale toda a adjetivação. Se fosse o contrário elas não teriam disparado, mas, simplesmente subido. Portanto, a precificação está nos adjetivos. Qual é o preço de uma despencada e o preço de uma descida, de uma disparada e de uma subida?
     Nesse caso, os mercados financeiros precificam uma mudança de comando em uma empresa. Precificam para cima, na expectativa de uma mudança de acordo com seus interesses, e quando ela não se realiza, o que se vê não é uma queda, mas a desprecificação daquilo que queriam. Logo, precificação em momentos de baixa movimentação das ações (volume negociado, o que sempre se deve ter em mente) não quer dizer nada, apenas movimentação especulativa.
     A presidenta, finalmente, deu o ar de sua graça, deslocando aquela que o mercado colocou em desgraça, e nomeou um nome diferente do mercado. A precificação se desfez. Agora o mercado vai precificar o novo perfil da Petrobrás.
     E por quê? O desastre se desfez para aqueles que precificaram a mudança da Petrobrás para um nome que o mercado gostaria, lendo-se alguém de perfil privatista, independente da presidenta e obediente ao mercado, e por isso as ações “caíram”.
     O que foi sinalizado é que, ao contrário da nomeação de Henrique Meireles, no início do governo Lula, dando uma precificação ao mercado de que tudo estaria bem, a presidenta deu o sinal contrário, portanto as ações caíram ou voltaram para o lugar. E, nesse momento, acontece o custo de oportunidade, que é o momento em economia quando os agentes econômicos, diante de uma queda do ente Petrobrás, resolvem renunciar a uma escolha alternativa e decidem apostar na empresa.
     É evidente que a maior empresa brasileira passa por uma crise de credibilidade, o que não é bom para os negócios. Resta saber, se a decisão de autonomia da presidenta, indiferente aos apupos da oposição, vai determinar uma precificação, ou seja, a tentativa de estabelecer um preço artificial para baixo, criando um melhor custo de oportunidade, quando adquirir as ações pode ser uma renúncia momentânea em relação a outros ganhos em outros ativos, que podem gerar polpudos lucros a médio e longo prazo.
     Nesse momento, uma outra ponta do mercado poderá vir como um tsunami, ou seja, aqueles que compreenderão que a precificação atual é extremamente baixa para o tamanho da Petrobrás, e, lentamente, se apercebendo disso, o mercado real, daqueles que enxergam a longo prazo vão precificando e levando as ações ao seu preço real.

 

Nilson Lattari

Nilson Lattari é carioca, escritor, graduado em Literatura pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, e com especialização em Estudos Literários pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Gosta de escrever, principalmente, crônicas e artigos sobre comportamentos humanos, políticos ou sociais. É detentor de vários prêmios em Literatura