Opiniões

A burrice: Meu personagem de 2018

        Custei a me decidir qual seria o personagem mais representativo do ano de 2018. E ele sempre esteve diante de todos nós, abundante nos comentários e nos memes que se propuseram a ser autoexplicativos.
        A coisa viajou da terra plana, e como não poderia deixar de ser, pela sua horizontalidade, rápida como um raio fulminante, deixando em todos aqueles que acreditam que a verdade não existe, mas sim a busca por ela, estupefatos, tontos e sem palavras para poder definir o que a burrice faz a todos nós.
        Várias mídias colocaram o Brasil, em 2018, como o segundo, quinto e por aí vai país mais ignorante do mundo. Leia-se que a ignorância é a completa falta de informações sobre algum assunto. Eu, você, todos nós somos ignorantes em muitos assuntos, simplesmente porque não temos a menor ideia sobre um determinado assuno em que não somos versados. Isso é ignorância, burrice, falta de senso é querer discutir sobre aquilo que não conhecemos.
         A burrice, por isso, além da ignorância, ela se faz de sapiente sobre assuntos que não domina, citando percentuais inexistentes, tirados de não se sabe onde, e se apropriando de discursos sem a menor credibilidade como seus, apenas porque concorda com seus pensamentos.
          Uma das essências da burrice é o dito por Raul Seixas sobre as pessoas com a opinião formada sobre quase tudo. Ou seja, aquele sujeito que dentro do seu achismo, da sua opinião, independente do que fontes acadêmicas e pensadores pensam, aquilo que pensa ou acha é o certo e pronto.
        A burrice está nos comentários da internet, nas argumentações estapafúrdias, e, sobretudo, nas caixas altas, nas “lacradas”, ou nos oclinhos que descem sobre figuras desimportantes.
          Caberia perguntar: A burrice, por que ela procria, quem ela alimenta, a quem ela serve?
        A burrice serve para muita coisa, principalmente para dar sucesso e dinheiro a alguns burros mais espertos, ou que se fazem de burros para angariar de uma plateia de burros a sua diversão e o seu ganha-pão.
      Este ano foi pródigo nisto. E foram “pensamentos” emitidos com grau de seriedade, dentro de argumentos “imbatíveis”. Filósofos que se atrevem, em terras tupiniquins, a desafiar Einstein, culpando o sol pelo aquecimento global ou sendo uma conspiração internacional com viés ideológico. Nem explicando pela Libras talvez alguém entendesse, afinal para ouvidos surdos de que adianta querer explicar alguma coisa.
       A grande ascensão da burrice chegou aos poderes constituídos, misturando alhos com bugalhos, ou olhos espertos com bagulhos, juntando guardiães da moral com entes com testemunhos de epifania.
       Se seguirmos no pensamento de que não nos devemos nos misturar com aqueles com quem nós não somos, acredite; a burrice vai achar que o seu lugar não é entre os burros.
         Porque a maior qualidade da burrice é se achar inteligente.
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Nilson Lattari

Nilson Lattari é carioca, escritor, graduado em Literatura pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, e com especialização em Estudos Literários pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Gosta de escrever, principalmente, crônicas e artigos sobre comportamentos humanos, políticos ou sociais. É detentor de vários prêmios em Literatura

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