Opiniões

Podemos tirar, se achar melhor

PODEMOS TIRAR, SE ACHAR MELHOR.

     Olhando o quadro político no Brasil, a impressão é, aparentemente, de confusão. Uma mistura de ideias que não se encontram: nazismo, críticas a Paulo Freire, intervenção militar constitucionalista, mulher pelada, investigado na lava-jato como manifestante. Aparentemente.
     A manifestação é contra um partido. Incomoda, um partido se perpetuar tanto tempo, via eleições democráticas, isso incomoda. Portanto, a suposta mistura de ideias se encontra na esperança de derrubar um governo, representado por um partido: O PT.
     Políticas sociais sempre incomodam. Elas não incomodam quando o dólar fica barato, o financiamento de carros e moradias mais luxuosas se apresenta fartamente. Quando elas faltam, o dinheiro da política social faz falta. Aí é a corrupção, essa coisa que incomoda e nunca existiu. Isso incomoda. Dá um desconforto. Afinal: quem gosta de competição. Coisas como um aeroporto parecendo rodoviária, supermercado cheio, moradias em comunidades com tela plana, 55’, 3D. Isso incomoda?
     Afinal, onde está o diferencial da marca? O tênis de marca não pode compor pés obscenos, camisas de marca, acessibilidade a bens de consumo, marca, preponderantemente, de classe média, afinal, iguala por baixo. E por baixo, incomoda.
     Classes sociais definidas por sopa de letrinhas devem ser muito boas para separar coisas. Fulano é A, sicrano é B, beltrano é C, o resto é D. E ninguém quer ser D, todo mundo quer ser A. Essa corrida incomoda.
     Por enquanto, o PT fica. Afinal, pensando bem, quando o PT assumiu, em 2002, o Brasil tinha uma inflação de 14,74%, juros no final de 2002, 24,90%, reservas no Banco Central de 37 bilhões de dólares. E o Brasil superou a crise, como o PT. Agora, a crise tem os seguintes números: inflação de 8%, juros de 12,75% e reservas no BACEN de 377 bilhões de dólares.
     Aqui entre nós, que crise é essa? Isso incomoda, porque a saída é muito mais fácil, o horizonte é de tirar o chapéu. Contra fatos não há argumentos. A crise é, eminentemente, política, vide a manutenção do grau de investimento da agência S&P. Os opositores ao PT ficam incomodados, e a intenção é, puramente, criar borbulhas. Mas, se a coisa está incomodando podemos tirar, se achar melhor. Mas, a gente volta… a incomodar.

Nilson Lattari

Nilson Lattari é carioca, escritor, graduado em Literatura pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, e com especialização em Estudos Literários pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Gosta de escrever, principalmente, crônicas e artigos sobre comportamentos humanos, políticos ou sociais. É detentor de vários prêmios em Literatura