Crônicas

Vazios

        Temos sempre um vazio dentro de nós, que nunca se preenche. Alguns empurram dentro deste saco, chamado vazio, as esperanças de preenchê-lo ou para encontrar seu fundo. Tentamos achá-lo ou preenchê-lo nas escadas das igrejas, nos livros, nos imaginários de divindades, nos eufemismos, e alguns pensamentos escorregam céticos, outros esperançosos, em velocidades diferentes daquelas que queremos.
        O vazio do homem é um vazar de energia pelo corpo, que absurdamente se sustenta mesmo com esse vácuo de sentimentos, ancorado na eterna pergunta de quem somos nós, ou de onde viemos, para onde vamos.
        Somos absorvidos por fantasias, por fenômenos que não explicamos. Este vazio se preenche cada vez mais com o nada.
     Somos os eternos seres das perguntas sem nenhuma resposta. Somos divididos entre aqueles que se entregam ao ceticismo e os que se regozijam com o divino, mas somos sempre interrogações perambulando pelo mundo.
       Enquanto os pequenos universos de seres humanos tentam se associar, unir razões e sentimentos, nossos vazios se enchem de crenças, na ilusão de que podemos nos tornar mais humanos, mais ajudantes do sentimento em comum na busca por uma vida melhor, tão importantes para não esquecermos que somos os construtores de nós mesmos.
        Vazios são sacos a serem preenchidos, ou não. Podem existir para o exercício de nossa humanidade, quem sabe, fonte de eternas perguntas sem respostas.
        Muitos preenchem os vazios com vazios de fantasias, de explicações que não se explicam, apenas são respostas prontas para perguntas eternas.
       Por que responder, por que preencher vazios? Vazios são sacos de ar que nos elevam, que nos tiram do letárgico. São pontos de fuga, são conceitos necessários, são existências sem existir, são o não ser.
        Quando preenchemos esses vazios com uma suposta racionalidade é a matemática do nada, equação que não se completa, dízimas infinitas, mas tentamos ir mais além, na própria busca da explicação do vazio, na vã esperança de enxergar o final do problema.
      Nem tudo necessita de respostas. O porquê de alguma coisa, da tristeza, da frustração, do êxtase e do amor. Viver não é preencher vazios, porque vazios são gotas de chuva que caem e evaporam e de tempos em tempos aparecem para nos molhar.
        Vazios são buracos que tentamos preencher para perceber que o tédio não pode ser nosso motivo para viver.

Fonte da foto: https://morguefile.com/creative/diannehope
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Nilson Lattari

Nilson Lattari é carioca, escritor, graduado em Literatura pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, e com especialização em Estudos Literários pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Gosta de escrever, principalmente, crônicas e artigos sobre comportamentos humanos, políticos ou sociais. É detentor de vários prêmios em Literatura

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