Crônicas

Questionando a paz

        Quando falamos de paz, imaginamos um lugar qualquer onde a vida transcorre sem contratempos, e sentimos dentro de nós um silêncio de conforto. Fechamos os olhos e nada mais cabe em nossa mente, além dos pensamentos positivos. Acordamos todos os dias e os dias transcorrerão sem nenhum obstáculo. Até mesmo se estamos em um trabalho e o executamos sem interrupções, esse, também, é um tipo de paz. E uma paz que vem do espírito, da alma, que nos torna leves e prontos para viver a vida.
        Paz, enfim, é o silêncio que se abate ao nosso redor, ou então uma sintonia entre nós, o mundo e as pessoas que nos fazem sentir bem acima de tudo e de todos. Após uma guerra, a paz é mais importante porque significa o fim do conflito, da mortandade entre semelhantes. Após uma briga onde dois adversários apertam as mãos e selam uma trégua ou uma paz definitiva para voltarem a viver como irmãos, amigos, enfim, tudo que é possível para a vida prosseguir.
       Se a paz existe após o conflito, o que significaria a paz antes dele? Precisamos da paz apenas para selar o fim das pendências? Ou a paz é algo tão acima de tudo que paira no ar e, no entanto, não é capaz de dirimir todas as dúvidas?
       Algumas vezes, a paz é apenas um intervalo entre as refregas, um descanso para continuar a luta. Trégua não é paz. Trégua é uma estratégia para pensar melhor no que fazer depois. Uma estratégia de defesa ou uma nova forma de ataque.
       A paz, sendo assim, não é o fim de pendências e conflitos. A paz é uma combinação de fatores que leva duas ou três partes a decidirem o que é melhor para todos. Nem sempre viver em guerra é bom para os dois lados. Sim, porque um conflito envolve perdas e perdas são irreparáveis, principalmente as humanas.
        A paz é uma forma de estabelecer diretrizes entre grupos, pessoas e sociedades em confronto. A paz significa o equilíbrio das forças, o reconhecimento que o outro lado tem suas razões, e não há razão para continuarem assim.
         A paz não exime as diferenças, não afina os discursos e não exclui o que se pensa do outro lado. Ela é um instrumento para que todos, sem exceção, continuem a viver.
        Magnânimo é aquele que oferece a mão para selar um conflito. É aquele que reconhece que os motivos da paz são muito superiores a qualquer pretexto para agredir e matar. A paz tem a sua magnitude quando estabelece os diálogos por meios pacíficos, colocando na mesa as normas da educação e do respeito ao outro.
         A paz, assim, não esconde as diferenças, a paz promove o encontro para uma boa convivência, visando a preservação dos lados.
       A paz, como acordo de final de conflito, é o maior símbolo de humanidade que trazemos. É o momento onde os ódios, os rancores, as diferenças de opinião tenham, não o final, mas um espírito de respeito mútuo. Que não, necessariamente, necessita ser um final feliz. Até porque, ninguém conhece a felicidade estabelecendo a guerra e levando a infelicidade ao outro.

Origem da foto: Photo by Priscilla Du Preez on Unsplash 

VOCÊ CHEGOU ATÉ AQUI. SE GOSTOU ENTÃO CADASTRE-SE NAS NOTIFICAÇÕES OU POR E-MAIL. E RECEBA NOVOS POSTS.

Nilson Lattari

Nilson Lattari é carioca, escritor, graduado em Literatura pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, e com especialização em Estudos Literários pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Gosta de escrever, principalmente, crônicas e artigos sobre comportamentos humanos, políticos ou sociais. É detentor de vários prêmios em Literatura

Obrigado por curtir o post