Crônicas

Por que se mostrar tanto nas redes sociais?

         Essa história de Facebook, a oportunidade de velhos amigos se reencontrarem, de se fazerem amigos novos, mesmo que não haja contatos físicos é fascinante. Essa ideia, no entanto, não é nova. Apenas a tecnologia proporcionou de forma mais rápida aquilo que acontecia antes.
       Um colecionador de selos fazia amizade com um outro em outro país, ou mesmo em uma cidade distante ou em seu próprio rincão, e essa amizade durava anos ou era interrompida, subitamente, por causa de algum atrito como uma remessa de selos danificados, como se o outro fosse um néscio no assunto.
          Namoros por carta eram raros. Mas aconteciam também.
          Como já disse, a tecnologia proporcionou de forma bem rápida as duas aproximações acima.
         No entanto, um dos fatos mais decepcionantes nas redes sociais é quando aquela imagem do amigo de escola, de infância, por decorrer um espaço de tempo muito grande, se encarrega de alterar tanto na forma política quanto na forma social.
       Por exemplo, quando nos tempos idos as discussões, ou melhor, as conversas eram mais amenas, mais puras ou pelo tempo decorrido nossas lembranças se tornaram as mais amáveis possíveis, esses amigos ainda eram conservados em uma aura mágica, guardada no tempo.
         Nada mais decepcionante do que reencontrar aquele amigo de outrora e constatar que ele é um néscio ou se tornou um defensor de causas absurdas e sem nexo, um cidadão que gosta de detonar as coisas boas, mesmo aquelas que não são muito boas, envaidecido do seu próprio delírio, tão diferentes da gente.
        Quando a pessoa se arvora no direito de dizer aquilo que bem entende, por conta da distância e da oportunidade de fazer das palavras o uso que lhe apraz, sem se incomodar que o outro não pense assim ou se sinta agredido em suas ideias e pensamentos, ela se torna, no mínimo, tolerável; a amizade continua em nome do passado ou não.
         Ou então, sem perceber que a sua linha do tempo não é a oportunidade de todos saberem o que você realmente é, até porque um diário não deveria se tornar público por conta da própria ideia do diário, enquanto um fórum em que você define, se mostra, tentando estabelecer um diálogo com você mesmo mas, ela, a sua linha do tempo, deveria mostrar um eu mais elegante e externo, como convém às normas ou boas normas de convivência, mas exibe exatamente o contrário.
          A verdade é que as pessoas não estão interessadas em esconder mais um eu verdadeiro, mas tão verdadeiro que mostra uma certa insanidade no trato social.
        Alguém já me definiu que o face ou as redes sociais são um botequim onde as pessoas têm o direito de dizer e mostrar o que bem entendem, e aqueles que não desejam ver estrelas não devem olhar para o céu.
         Eu até concordo, mas mesmo no botequim, a menos que se esteja alcoolizado, medimos nossas palavras e evitamos atritos. O resto é conversa de bêbados.

Origem da foto: Foto de Karsten Winegeart en Unsplash 

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Nilson Lattari

Nilson Lattari é carioca, escritor, graduado em Literatura pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, e com especialização em Estudos Literários pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Gosta de escrever, principalmente, crônicas e artigos sobre comportamentos humanos, políticos ou sociais. É detentor de vários prêmios em Literatura

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