Opiniões

Passeatas e passeantes

PASSEATAS E PASSEANTES

     A fronteira entre a demagogia e a sinceridade é uma linha muito tênue. É muito difícil ser sincero, onde a demagogia demanda mais tempo, tanto na manipulação de conceitos, quanto na organização das mensagens que são passadas pelos órgãos de informação, e agora, também, na difusão de notícias pela web.
     Mas, é nessa corda balançante que eu pretendo caminhar.
     Fui à manifestação no dia treze, na cidade onde moro. Média, sem o apelo de uma capital, debaixo de chuva, em um final de tarde, e observei, antes de mais nada, as pessoas que se apossavam de microfones. Eram simples, e eu, nem tão simples assim as ouvi. Vestiam vermelho, ninguém ostentava as cores verde e amarela. Nem eu as usava. Porque o que estava em jogo não era o Brasil, o que estava em jogo eram conquistas sociais. Ou seja, as pessoas ali queriam pertencer a um Brasil, da qual elas, antes, não faziam parte. E por causa de um processo de exclusão procuraram bandeiras que as unissem e pudessem, no seu imaginário, pertencer a um grupo.
     Demagogia? Talvez.
     Seria bem melhor que eu pudesse desfilar na praia de Copacabana, no meio de uma plateia selecionada. E é assim, exatamente assim que eu enxergo os panelaços e as passeatas do dia quinze.
     A minha passeata não tinha cartazes em inglês, não tinha erros de português, não tinha mulher pelada, não tinha suástica, não tinha camisetas mandando a presidenta (porque aqui desse lado, nós a chamamos assim) ir tomar em algum lugar, ou usando palavras de baixo calão e ofensivas, não tinha atores famosos e não tinha cobertura em tempo integral das televisões. E, principalmente, não tinha sorrisos, não tinha ninguém rindo, tirando selfies, não tinha político investigado pelo Ministério Público participando. Para eles, e para nós, a coisa era séria.
     Mas, claro, para a outra passeata, a coisa era séria, mas, antes de mais nada deveria parecer séria, e não uma festa.
     Porque, para mim, foi mais uma festa. A festa dos perdedores, e de brancos. Em uma grande parte preocupada com a alta do dólar e não poder viajar ao exterior. Ora, se um milhão ou dez milhões deixaram de viajar ao exterior, o que os cento e noventa milhões têm a ver com isso?O PT fez a história de mostrar a verdadeira face que somos (racistas, preconceituosos e rancorosos), nada daquele ser gentil.
     Nunca se prendeu tanta gente, ou alguém se lembra nos governos anteriores de gente grande ir para a cadeia? Donde se conclui ou que não havia roubos nos governos, ou não havia bandidos! Você acredita? Eu nunca acreditei, mas os participantes do dia quinze acham que “o limite da irresponsabilidade” está muito longe da linha tênue da demagogia e da sinceridade.
     Hoje, cada vez mais, eu sei o lugar a qual eu pertenço. Espero que eles me aceitem: sendo branco, pós-graduado, classe média. Demagogia? Tô nem aí!

Nilson Lattari

Nilson Lattari é carioca, escritor, graduado em Literatura pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, e com especialização em Estudos Literários pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Gosta de escrever, principalmente, crônicas e artigos sobre comportamentos humanos, políticos ou sociais. É detentor de vários prêmios em Literatura

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