Crônicas

Eureka!

        O último a proferi-la, de forma fantasiosa, dizem, foi Arquimedes. Até mesmo dizem que ele saiu pelado pelas ruas exclamando a palavra quando fez uma descoberta. Isso depois de jogar a água para fora da bacia, ou da banheira, se alguém ainda sabe o significado da expressão, de forma jocosa, a cena de nudez explícita talvez componha o ambiente.
         Brincadeiras à parte, ter uma ideia é um fato que deve ser comemorado. Uma ideia vive pelo ar, como disse um amigo, que a ideia não é nossa, ela é fruto de uma troca de informações entre todos, até que chega a uma mente brilhante e ela se transforma em algo tangível, perfeitamente executável.
        Certa vez, pensei em fazer uma música que comporia uma peça infantil que não evoluiu – o grito de Eureka! ficou no ar. A letra dizia, mais ou menos que existiria uma ideia por aí doida de alegria para me encontrar.
       A ideia, então, funcionaria assim, como a indagação do meu amigo. Elas pululam por aí, até que alguém resolve colocar os pingos nos is, organizar as informações e comemorar a sua brilhante conclusão.
        Ideias são assim, nômades, espalhadas entre todos. Algumas vezes está diante dos nossos narizes e cometemos um erro crasso e ela passa incólume, como o trem que parou na estação e chegamos atrasados, ou não comparecemos para pegá-lo por preguiça, conforto ou desatenção.
         Basicamente, uma ideia se desenvolve quando nosso foco é pensar que ela existe, é factível, e os processos para alcançá-la se resumem em conjecturar em tudo que ouvimos, imaginamos, lemos, conversamos, perguntamos o que podemos fazer com as informações. Para alguns, como posso ganhar dinheiro com isso ou como posso aprender mais com isso e trazer conforto espiritual ou físico.
         Nossas ideias devem estar a serviço da nossa individualidade, da nossa construção, para que a coletividade, como um todo, usufrua delas. Ideias são coletivas porque são construídas a partir do pensamento de muitos, inclusive dos erros cometidos, fontes de aprendizado.
        Arquimedes teve uma ideia que revolucionou nossa compreensão em pontos importantes, que levou a outras conclusões, e por aí a ideia foi ganhando músculos, especulações e nos beneficiamos dela de uma forma ou de outra, direta ou indiretamente.
         Os frutos das nossas ideias talvez não nos alcancem no futuro, mas servirão para mudar a vida dos nossos filhos, nossos ascendentes. Ideias não são frutos egoístas que devemos guardar para nós, como muitos fazem, objetivando seu próprio benefício.
        O pensador grego saiu pelas ruas gritando a palavra mágica. Sua nudez pode ser usada de uma forma simbólica como aquele que difunde seu pensamento de forma despojada, soltando a notícia para todos, sem discriminação, importando mais o benefício da humanidade do que a si mesmo.
      A ciência é e deve ser assim. Descobrir, inventar, criar são requisitos próprios dos seres humanos. Ideias não têm donos. E aqueles que as difundem são os responsáveis pela nossa sobrevivência. Confiar na ciência é a ideia básica para construir uma sociedade.

Fonte da foto: Photo by Júnior Ferreira on Unsplash 

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Nilson Lattari

Nilson Lattari é carioca, escritor, graduado em Literatura pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, e com especialização em Estudos Literários pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Gosta de escrever, principalmente, crônicas e artigos sobre comportamentos humanos, políticos ou sociais. É detentor de vários prêmios em Literatura

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