Opiniões

Deuses e homens

        Todas as vezes, e são muitas, que morrem grandes figuras da política, religião, esportes, enfim de qualquer atividade humana, a impressão que fica é a de um buraco na nossa humanidade. Algumas me tocaram, profundamente, como a morte de Darcy Ribeiro. De repente, eu senti que nunca teria a oportunidade de, um dia, poder trocar algumas breves palavras com ele.
        Essas figuras são importantes para uns e não tão importantes para outros. E essa é palavra-chave: a importância. Não existe o maior do mundo, existe o importante, aquele que mudou alguma coisa dentro da mente de alguém, de uma comunidade, de um país.
       Maradona, um excepcional e importantíssimo player dentro dessa constelação de distinguidos, merece a tristeza de alguns, o desprezo de outros, desdém, frustração. Assim são as lideranças, não agradar a todos, e, ao mesmo tempo, conseguir reunir em torno dele uma quantidade de admiradores. A impressão de misturar o que o ídolo faz na sua atividade profissional e o que ele pensa é o grande divisor de águas.
        Acho que sim, mas, também, acho que não, porque o sentimento de admiração e desprezo habita dentro de nós. O que alguém faz de mágico com os pés, mãos, mentes não obscurece o ser humano que existe em cada um. Ídolos não são obrigados a se comportarem como seus fans querem, eles são obrigados a serem eles mesmos. Agradar a todos é impossível e nem desejável. Pessoalmente, tenho minha posição crítica. Acho que admiro aqueles que não esquecem sua origem. E a transmitem nos seus pensamentos: sua origem.
      Muitos se esquecem dela, e adotam o pensamento de classes as quais nunca pertenceram. Se alguém nasce em berço dourado, coberto de privilégios, se torna uma pessoa importante e age como sua origem é mais coerente do que aqueles que apagam seu passado e se vendem para quem nunca antes de sua glória quiseram comprá-los.
       Temos que respeitar aqueles que nunca esquecem sua origem. E respeitar aqueles que, independentes de sua origem, não veem méritos em vencer diante de desiguais.
       Ídolos têm o direito de serem o que são. Não são obrigados a se comportarem como seminaristas. Por serem autênticos são polêmicos, por serem autênticos são criticados e por não obedecerem a uma trajetória marqueteira merecem respeito.
        Para aqueles que sentiram o brilho nos olhos diante da jogada fantástica, sufocando o Oh! de admiração por puro despeito, a única resposta é desprezo. Para aqueles que, independentemente da ideologia, no entanto, comprometidos com a humanidade, sabem admirar os grandes feitos, esses são os verdadeiros fans.
       O que causa o desprezo daqueles que veem defeitos em homens como Maradona, e mulheres também brilhantes, é a inveja, porque são as vozes daqueles que ficaram para trás.
       Afinal, uma vez alguém me perguntou como uma pessoa que leu tanto tinha direções ideológicas tão contrárias, ao que eu disse que, talvez, eu fosse assim, exatamente pela mesma razão.
        Maradona foi assim. Foi assim, exatamente, pela mesma razão, as razões dele.

Fonte da foto: BBC.com, internet

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Nilson Lattari

Nilson Lattari é carioca, escritor, graduado em Literatura pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, e com especialização em Estudos Literários pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Gosta de escrever, principalmente, crônicas e artigos sobre comportamentos humanos, políticos ou sociais. É detentor de vários prêmios em Literatura

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