Crônicas

Batalhas perdidas

        Conforme a idade avança aprendemos a ler as pedras que estão pelo caminho. Ou seja, você não corre sobre as pedras porque pode tropeçar nelas e cair no chão, e a caminhada se tornará árdua.
        Conforme a idade avança não existem batalhas perdidas, existem batalhas escolhidas. Nem sempre uma batalha ganha representa um prêmio válido. Escolher as batalhas é um privilégio, escolher as batalhas é desprezar o inimigo que não vale a pena ter.
        As pedras no caminho são pedras escolhidas para serem contornadas, evitadas ou deslocadas, e assim também são as batalhas. Com o tempo se aprende a ler os sinais que as pedras nos enviam. Muitas são jogadas para pegar incautos, despreparados, ansiosos que gastam suas energias para nada.
         A economia das energias tem o efeito de nos dar mais tempo para fazer coisas produtivas.
     As principais batalhas que enfrentamos são as guerras das narrativas (aliás estou repetindo este termo não sei por quê. Acho essa expressão ridícula) quando perdemos nosso tempo convencendo quem não quer ser convencido. O silêncio é a principal arma daqueles que compreendem o significado de uma batalha que será perdida, na derrota ou, simplesmente, na vitória.
       Ver as pedras no caminho é antever o passo do adversário, de ler a fisionomia do corpo, do rosto daquele que pensamos enfrentar. Têm adversários que não valem a pena ter, e se os temos é hora de contorná-los, e isso não significa covardia ou antipatia, mas significa a sobrevivência, como na guerra onde todos procuram se defender e defender seu ideal ou sua tranquilidade para viver.
        Algumas batalhas valem a pena, não pelo fato de almejar o prêmio, mas pelo simples fato de poder estar nela como testemunha de um século, de uma década, de um dia.
       Batalhas memoráveis guardamos na lembrança, como fotografias de um tempo que não volta mais, e que representam no seu tempo uma esperança de mudar o futuro do mundo ou de nós mesmos.
     Pedras nos são lançadas e nas batalhas nos lançamos nelas. Pedras também atiramos e batalhas nos inflamam de uma maneira ou de outra. Ambas nós procuramos evitar e em ambas procuramos nos envolver.
       Com o tempo, um simples olhar nos diz que pedras evitar e que batalhas nos envolver. Pedras e batalhas são a mesma coisa. Algumas são grandes e leves, outras pequenas e pesadas. Algumas são inevitáveis, e para cada pedra temos uma batalha e para cada batalha nós somos uma pedra no caminho delas.

Origem da foto: Foto de Tengyart na Unsplash 

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Nilson Lattari

Nilson Lattari é carioca, escritor, graduado em Literatura pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, e com especialização em Estudos Literários pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Gosta de escrever, principalmente, crônicas e artigos sobre comportamentos humanos, políticos ou sociais. É detentor de vários prêmios em Literatura

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