Crônicas

Até que ponto chegar

        Muitas vezes nos surpreendemos tecendo planos para o futuro. É claro que esses planos mudam de acordo com a idade. Eles serão longos ou serão curtos. Quando somos jovens eles têm um formato mais longo, mais elaborado, e quando somos mais velhos eles têm uma pressa, um prazo mais curto.
        Isso não quer dizer que não devemos deixar de fazê-los. Planos para o futuro são o combustível para nossos dias. É claro que os horizontes se aproximam conforme nossa experiência apura as probabilidades. Os planos mais longos têm uma imaturidade de acordo com nossa vontade, e não, necessariamente, com a vivência que nos ensina as pedras no caminho, os cisnes negros que entram no nosso circuito: o inesperado. O que as pessoas costumam dizer como o Homem põe e Deus dispõe.
         É claro que não devemos culpá-Lo sobre os nossos desatinos, as nossas dificuldades. As pedras no caminho não são, necessariamente, a presença d’Ele para nos atormentar. Outros dizem que são Seus ensinamentos para nossa vida. Não creio, no entanto, que Deus trama contra nós e que utiliza o Seu poder para nos ensinar como o pai que pune a nossa imprudência.
        Não somos imprudentes, somos inexperientes e até arrogantes. A experiência é que nos ensina, e mesmo com ela caímos em armadilhas, armadas por nossos próprios semelhantes.
        Não devemos, também, tratar Deus como um tolo, capaz de contornar nossos obstáculos fazendo-Lhe pedidos absurdos e incoerentes: Deus não é um tolo.
        Sim. Podemos fazer a nossa parte e Ele faz a d”Ele, mas não é bem assim.
     A parte de Deus não é nos atender, porque Deus criou o mundo mas não criou o nosso mundo. Aquele que construímos a partir das nossas capacidades. Afinal, por que pedir um carro a Ele, se Ele não é construtor de carros? E se pedimos coisas deste mundo, com certeza, Ele terá de tirar de alguém, o que não seria justo. A nossa experiência, se queremos formar o futuro, é banhada pela sabedoria, pela saúde e pela resiliência. E, mesmo assim, temos a nossa tarefa a cumprir, que é cuidar do corpo que vai mostrar resiliência, com o cuidado da nossa saúde e pela busca da sabedoria.
      Planos são formados a partir dessas três qualidades. Planejar com cuidado e dentro dos nossos limites e possibilidades, dar ao nosso corpo a atenção que ele merece, para que possamos enfrentar o futuro com força física e espiritual, e, finalmente, a resiliência, que é a capacidade de esperar pelo momento certo, sem sofreguidão, como se o futuro fosse acabar a qualquer momento.
        Essas coisas são trazidas pela experiência de vida e pela experimentação. E o tempo que vai passando, vivendo o futuro de cada dia. A preparação é constante, e ela começa no nascer do dia, que é mais uma oportunidade de estudar o próximo passo.
      Poderemos pensar que quando chega a experiência já é muito tarde para construir o futuro, e então percebemos que estivemos todo o tempo construindo coisas, as pequenas coisas e pequenas conquistas de cada dia, e vamos acumulando, sem perceber, a poupança para o nosso futuro.
         Para alguns seria o capital e patrimônio acumulados, para outros a descoberta do verdadeiro prazer de viver com pouco.
       Nunca teremos tudo que desejamos, porque a nossa sede é imensurável, e não percebemos. Portanto, há um segredo em tudo, que é medir a nossa sede e saber se ela cabe na nossa existência.

Fonte da foto: Photo by Damir Spanic on Unsplash 

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Nilson Lattari

Nilson Lattari é carioca, escritor, graduado em Literatura pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, e com especialização em Estudos Literários pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Gosta de escrever, principalmente, crônicas e artigos sobre comportamentos humanos, políticos ou sociais. É detentor de vários prêmios em Literatura

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