Crônicas

Ser jovem

        Certa vez, aos onze ou doze anos, minha mãe me perguntou:
        – Quem você gostaria que fosse o presidente do Brasil?
        Eu respondi:
        – John Kennedy.
        Ela, assustada, me disse:
        – Meu Deus! Você é um jovem! Você gostaria que um estrangeiro fosse o presidente do seu país? E nos tutelasse?
        Depois disso, eu nunca mais envelheci, fiquei envergonhado pelo que eu disse.
        Depois disso passei a entender, até mesmo com as leituras, o entendimento gradual do mundo, que ser jovem é antes de tudo não ser tutelado, é não ser mandado, é ser dono de si mesmo. Ser jovem é não adotar as ideias envelhecidas e abraçar com outros tantos que assim pensam que as ideias nascem dentro da gente, e de outros jovens que também não se deixaram envelhecer, e sempre permaneceram jovens.
        Quando alguém, já cansado dos disparates postados nas redes sociais, diz que devemos relevar as idiotices sem pé, cabeça ou argumento, eu, como jovem, respondo:
        – Meu Deus, eu sou um jovem!
     Um jovem é malcriado, é respondão, um jovem briga por aquilo que pensa e procura, antes de tudo, verificar se aquilo que ele pensa ou defende tem respaldo nos jovens que não envelheceram, também.
      Um jovem briga, discute, levanta bandeiras, somente os velhos se escondem, como as bruxas na floresta, a elaborar mandingas e unguentos, resmungando e maldizendo as festas que os jovens fazem.
      Um jovem, quando machucado, esquece as dores. E quantas dores, um jovem envelhecido tem? Mas, ser jovem, permanecer jovem é aprender com o tempo a administrar as vitórias e as derrotas.
      Um jovem, quando envelhece, não se esconde atrás de mensagens de santos enviadas para os outros, enquanto remói dentro de si uma raiva incontida contra outros jovens que lutam por uma sociedade mais justa: um jovem coloca Deus no coração e vai com ele à luta, ao combate. Jovem não tem medo de assombração!
       Um jovem, com o tempo, não se transforma em gente de bem. Ele se transforma em gente de mal; de mal com a desigualdade, com a indiferença, com a ignorância e o ódio gratuito.
       Um jovem, quando envelhece, não joga sua pretensiosa meritocracia no rosto dos outros. Um jovem, quando envelhece, reconhece que teve sorte na vida e se trabalhou não foi mais do que a obrigação.
      Um jovem não tem o discurso carcomido, velho, retrógrado, coberto de mágoas apregoando o seu tempo; um jovem não impõe seu tempo aos outros jovens, apenas vive os novos tempos como se fossem dele, também, e aprendendo sempre as coisas novas que os mais jovens trazem. E as dele? Guarda em uma caixinha de lembranças.
      Enquanto os jovens somente envelhecerem, sempre o mundo parecerá mais jovem, correndo atrás do futuro, a verdadeira caminhada.

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Nilson Lattari

Nilson Lattari é carioca, escritor, graduado em Literatura pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, e com especialização em Estudos Literários pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Gosta de escrever, principalmente, crônicas e artigos sobre comportamentos humanos, políticos ou sociais. É detentor de vários prêmios em Literatura

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