Crônicas

Ser amável

        Não é fácil ser amável todo o tempo. Muitas vezes somos amáveis até mesmo por uma obrigação qualquer, naquela postura de ser politicamente correto. Prestar uma assistência a alguém, dar uma informação, ceder um lugar em um ônibus ou, simplesmente, dar passagem a alguém mais velho, ou para uma mulher, quando você é o homem, no caso: o que nos faz pensar o que leva a isso. Afinal de contas, por que não uma mulher dar a passagem a um homem, oferecer flores.
        De muitas formas expressamos amabilidades. Ou por obrigação ou por um motivo que temos dentro de nós, que nos motiva a ser assim, tentando imaginar um mundo em que as trocas de ofensas estejam no reservado mínimo, onde deixamos as nossas amabilidades dormirem muitas vezes.
         No mundo tão dinâmico, e principalmente onde as informações entre os habitantes são trocadas com muita rapidez, as amabilidades e as ofensas estão em lugares separados, para os amigos e para os não tão amigos assim.
           Ironias à parte, desejamos um mundo de amabilidades do que de ofensas. Longas e antigas amizades se desfazem por conta de descobertas de pensamentos que nos surpreendem. Como podemos ser amáveis em um mundo tão destruído pelas relações sociais? Será que nos tornamos tão frequentes por causa das mídias sociais que descobrimos, e, ao mesmo tempo, decepcionados, o que o outro é? Na verdade, nos encontros fortuitos ou combinados de antes, as oportunidades de nos conhecermos melhor foram mais raras, ou nos esquecíamos das discordâncias, dada a distância nos separando, de imaginar que o que foi dito não foi bem assim. E dado o contato se tornarem raros, esquecíamos o que o outro nos disse.?
            Como nos expressarmos com amabilidades, como ser amáveis se do outro lado um pensamento não está conectado com o nosso? É difícil ou é fácil ser amável? É difícil ou fácil fingir que nada está acontecendo, e por dentro alguma coisa vai nos consumindo como um fogo que não quer acabar? Como então expressar amabilidades?
           Ser amável em um mundo caótico é uma confusão sem fim, que acaba com qualquer vontade de ser amável. A explosão de sentimentos tem tanta sinceridade, que ser amável poderá parecer mais irônico do que realidade.
            Parecer ou ser amável é a questão.
           Ignorar o outro, com os pensamentos que não combinam, não fazem par com os nossos, pode ser algo amável com nossa própria consciência. Não deixar que ela seja perturbada por qualquer picuinha ou pensamento estranho, e ser amável quando estamos sendo dragados pelos acontecimentos mais vai parecer um tapa com luva de pelica, o que nos transformará em seres de falsas amabilidades.
         Expressar amabilidades está muito além de nós, ela talvez seja sincera quando vinda de um impulso, ato instantâneo de querer fazer o bem sem olhar a quem.

Origem da foto: Photo by Reign Abarintos on Unsplash 

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Nilson Lattari

Nilson Lattari é carioca, escritor, graduado em Literatura pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, e com especialização em Estudos Literários pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Gosta de escrever, principalmente, crônicas e artigos sobre comportamentos humanos, políticos ou sociais. É detentor de vários prêmios em Literatura

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