Crônicas

Sair para dançar

        Sair para dançar e espantar os males que nos afligem, sapateando sobre os infortúnios que nos acompanham. Um quadrinho simples, colocado na fechadura da porta, no melhor estilo “Não perturbe”, ou pendurado no prego onde colocamos festejos de Natal, um recado para o mundo, para as pessoas, que vêm colaborar para o nosso desconforto, dizendo: “Saí para dançar”.
        Como? Fulano, beltrano, fulana, beltrana, fazendo uma coisa dessas? Nunca foram dados a este tipo de arroubo, sempre tímidos, prestimosos, gente boa! Imagine, esses todos saírem para dançar com a vida, com o sol, com a praia, com a montanha, simplesmente fazendo uma longa caminhada para enfim encontrar uma vista que, diante dos olhos, eles se extasiem, e, finalmente, chamando alguém para dançar, seja uma boa e bela paisagem, um belo livro para ler ao ar livre, ou mesmo ficando em casa bem quietinho ou quietinha, deixando a campainha tocar até cansar, porque, para o mundo, saímos para dançar.
        Sair para dançar é esse pegar de mãos que se encontram, sorrisos que se abraçam, encostados em um rosto bem barbeado, ou sentindo o aroma perfumado de uma face querida; se deixar embalar por uma música, mesmo que seja dentro de um carro que desce uma montanha com suas curvas generosas, como se também se deixasse embalar pela música que sai do rádio, do Cd, e ficar a dançar embalados pelo ritmo que vai descaindo com o carro obedecendo o movimento.
        Definitivamente, deveríamos sair sempre para dançar. No embalo dos pés saltitantes pelas calçadas, do bate-bate repetido dos pés na corrida pelas ruas, no barulho dos pés molhados e retidos pela água do mar, ouvindo os sons da vida rebombando em torno, enfim, dançar com o parceiro, viver, bailando pelos lugares mais escondidos, onde se possa roubar um beijo, um abraço terno, e com cara de vitoriosos a caminhar pela rua, prontos para dançar em uma nova praça.
       Precisamos algumas vezes, ou melhor dizendo, sempre, sair para dançar com os estranhos que conhecemos, para dançar com sorrisos em conversas amistosas com amigos de longa data, na reunião do aniversário da formatura, dos aniversários; sair para dançar com as estrelas que palpitam à noite, e com as estrelas que dançam escondidas no fundo do mar.
        Sair para dançar é um ótimo remédio porque o mal se instala quando ficamos, eternamente, na cadeira esperando alguém nos chamar para dançar. Sair para dançar é criar a oportunidade de ouvir músicas que esquecemos, de comidas que comemos um dia, do bom café que parece dançar com a nossa alma que se ausenta nos pensamentos escondidos.
        Sair para dançar é um remédio sem contraindicações. Sair para dançar é a roupa nova que usamos pela primeira vez, do corte de cabelo que, finalmente, o cabeleireiro acertou, sair para dançar é dançar sozinho, porque um sorriso no rosto é um eterno convite para se achar um par.

Fonte da foto: https://morguefile.com/creative/DodgertonSkillhause

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Nilson Lattari

Nilson Lattari é carioca, escritor, graduado em Literatura pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, e com especialização em Estudos Literários pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Gosta de escrever, principalmente, crônicas e artigos sobre comportamentos humanos, políticos ou sociais. É detentor de vários prêmios em Literatura

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