Opiniões

Respeito, que é bom, quem tem?

        Uma palavra que tem sido solapada nos últimos tempos em nosso país é o respeito, e com a sua ausência, por conseguinte, o desrespeito toma a forma assustadora, e a sua materialização se torna a normalidade.
          Muitas vezes ouvimos o respeitado e o respeitável assumirem, ombro a ombro, o mesmo grau de validade. E, no entanto, a distância entre as duas palavras, seus significados, tem distanciamento abissal.
         Respeito tem a ver com poder, com empoderamento, palavra tão em voga e que o corretor já me assinala como desconhecida. E as palavras nascem assim, do desconhecido, como uma vaga surpreendente que aparece no meio do oceano de barbaridades linguísticas, adjutórias de retóricas sem nenhum respeito, ao bom senso ou à inteligência.
         Poder não se conquista, poder é conquistado, é dado, de livre e espontânea vontade, por interesse ou admiração. Poder dado também é uma forma de empoderamento, para o mal ou para o bem.
        Respeitado alguém pode ser por vários motivos: físico, financeiro ou espiritual. Tem-se respeito por medo de apanhar, daí o físico, de se tornar pobre, daí o financeiro ou pelo medo da existência além da morte, daí o espiritual. Por esse motivo, algumas pessoas entregam o poder sobre si mesmo, pelo simples fato de negar a própria incapacidade de reagir, entregar-se ao trabalho e à confiança em si mesmo ou pela própria ignorância, e descaso na busca do conhecimento de si.
         Respeitável tem a ver com admiração, aquele que seguimos, seja um ente físico ou um ente institucional. Tem a ver com a crença e similaridade de pensamento, de construção de discurso que lhe falta, e que palavras e atos verbalizam o de dentro de si.
        O voto, na democracia, é um ente respeitável, porque representa o que se pensa, e aquele que adquire o poder, através dele não se torna respeitável, imediatamente, porque está comprometido com o compromisso que está apenso.
     No processo atual da nossa democracia, nossa presidenta eleita perdeu o respeito, por não cumprir seus compromissos, mas, ao mesmo tempo, o que levou milhares de pessoas a apoiá-la? Naquele momento, aquelas pessoas queriam antes de tudo, que o seu voto respeitável, conquistado na maioria das urnas, fosse respeitado por ter sido fruto de ato legítimo.
       No entanto, ao revogar a respeitabilidade que a maioria tinha direito, a única alternativa seria a aliança com aquilo de menos respeitável que existisse. Este é o motivo que faz com que os supostos vitoriosos do movimento não devem e não podem ter o menor respeito por suas atitudes.
     E, de cambulhada, todos os entes que apoiaram institucionalmente, travestidos de ritualidades que, supostamente amparadas pela lei, lei essa morta e enterrada no vade mecun jurídico, como corpo físico ausente de espírito no melhor conceito de Montesquieu, serviu como zumbi para interesses que requerem do povo respeito, oriundo do poder que se tem nas conduções coercitivas, mas que por não causarem nenhuma espécie de admiração não tem nada de respeitável.
        Cabe a cada um de nós perguntar a si mesmos: A quem devemos respeitar e a quem devemos conhecer como respeitáveis.

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Nilson Lattari

Nilson Lattari é carioca, escritor, graduado em Literatura pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, e com especialização em Estudos Literários pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Gosta de escrever, principalmente, crônicas e artigos sobre comportamentos humanos, políticos ou sociais. É detentor de vários prêmios em Literatura

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