Crônicas

Por que mudar?

       Constantemente, somos bombardeados pelos Influencers, Coaches sobre essa necessidade de mudar, de ser diferente, procurar novos rumos, tirar a bunda da cadeira e sair por aí, catando aventuras como se isso fosse a coisa mais fácil de fazer. Não é.
       De uma certa maneira, somos infantilizados e gostaríamos de ser sempre crianças vivendo as fantasias da idade, voltar para casa, depois de um dia cheio de responsabilidades na escola e brincadeiras nas ruas, sentar e não se preocupar com o dia seguinte se temos que lutar pela nossa subsistência.
         Infelizmente, tem um momento em que a hora do recreio acaba e a escola já não é para nós e pertencerá a outros, nessa cadeia interminável da vida.
        O novo assusta, porque é território virgem, terra desconhecida. Esse novo é o velho para muitos que sentiram os mesmos medos e o encararam não por querer mas, simplesmente, que o querer não tinha uma opção. O não-querer é para os loucos e para os fortes. O inusitado e o estranho não são para qualquer um. Não pertence à nossa normalidade.
        É difícil sair do nosso lugar, seja ele um lugar físico ou um lugar temporal. As idades chegam, independentes da nossa vontade e a vida segue seu rumo, ignorando os nossos desejos. A vida é como o mestre que brande uma varinha e vai abrindo um caminho desconhecido, apontando o certo, o errado, o desejo e a realidade.
        Então por que temos que mudar? Porque é assim, e o nosso papel é dar qualidade nessa mudança. Alguns não têm opção nenhuma, não existe o querer ou o não-querer, mudam porque são despejados pela condição social, racial ou de gênero. E a única opção é mudar, mesmo contra vontade.
        O mais covarde no ser humano é quando os que têm a opção da escolha provocam aqueles que não as têm com suas fórmulas malucas em relação à vida sem, no entanto, terem provado delas na carne, apenas na teoria.
        Quando mudamos, não mudamos apenas nosso espaço no tempo, nosso espaço físico, devemos mudar nossa compreensão em relação ao mundo onde vivemos. Devemos mudar nossa forma de pensar quando temos a opção da escolha, devemos mudar no sentido de propor a competição em igualdade de condições, e não propor que haja competição, desde que o status da ausência de oportunidades dos rejeitados permaneça, garantindo o podium dos vencedores e seus herdeiros ad aeternum.
         Enquanto muitos se preocupam em mudar na busca de lugares privilegiados, as mudanças reais são aquelas que mudam a sociedade como um todo. Precisamos mudar as nossas relações com semelhantes, mudar dentro de nós a maneira de pensar com egoísmo.
         Não importa o que pensamos, as mudanças ocorrem, o mundo muda e continua. Logo, as mudanças interiores fazem mais sentido, e ainda nelas temos algum controle.

Origem da foto: Photo by Nick Fewings on Unsplash 

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Nilson Lattari

Nilson Lattari é carioca, escritor, graduado em Literatura pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, e com especialização em Estudos Literários pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Gosta de escrever, principalmente, crônicas e artigos sobre comportamentos humanos, políticos ou sociais. É detentor de vários prêmios em Literatura

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