Crônicas

Plantar uma árvore, deixar uma ideia

        É bastante conhecida a história do idoso que é surpreendido por um sujeito enquanto plantava uma árvore, e é questionado sobre o valor do seu ato. De que ele, pela sua avançada idade, não usufruiria da sua sombra ou dos seus frutos, não a veria alcançar a plenitude; enfim, um trabalho sem sentido. Ao que o homem respondeu que ao chegar neste mundo encontrara muitas árvores que foram plantadas por outros, que também não teriam visto, talvez, a sombra ou os seus frutos. E que o seu gesto seria apenas uma retribuição às gerações futuras.
      Deixamos no mundo, não somente árvores a serem vistas pelas gerações futuras, na esperança de que elas repitam o gesto, num vir-a-ser contínuo, fazendo o bem sem olhar a quem. Também deixamos exemplos, histórias vividas, experiências e ideias. Assim como o incrédulo sujeito que vê um imenso deserto de sentimentos na sua frente e não enxerga um pequeno gesto de grandeza, as ideias são teimosas e como as árvores superam impedimentos e rompem da terra ou das mentes, na esperança de mudar o mundo, transformá-lo, mostrando que devemos evoluir sempre.
       Uma árvore plantada no meio de uma planície pode se juntar a outras e mudar, transformar a natureza. As ideias são pequenas reflexões que lançamos na sociedade, plantadas por alguns seres teimosos, esperando que floresçam e mudem o mundo.
       Árvores plantadas no deserto retiram a imagem de solidão, ideias que superam o pensamento retrógrado não permitem o seu retorno ou são fortes impedimentos para que floresçam.
     Plantar alguma coisa é resistir, é mostrar perseverança. Algumas árvores passam longo tempo e nos surpreendem com suas flores, em determinadas passagens do ano, e por isso elas ali estão. As ideias ficam adormecidas e, amadurecidas, trabalhadas serão a sombra e os frutos do futuro; a memória contra o preconceito, contra o ódio, pela manutenção da liberdade, porque alguns teimosos insistiram em plantá-las no deserto de sentimentos do passado, e nos cabe deixar que floresçam no futuro. Para que as gerações vindouras as encontrem estabelecidas, não vivam no deserto, e mantenham viva a manutenção, e que elas sejam melhoradas sempre, deixadas no mundo, fertilizando nosso amanhã com novas ideias.

Origem da foto: Photo de Diego PH sur Unsplash 

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Nilson Lattari

Nilson Lattari é carioca, escritor, graduado em Literatura pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, e com especialização em Estudos Literários pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Gosta de escrever, principalmente, crônicas e artigos sobre comportamentos humanos, políticos ou sociais. É detentor de vários prêmios em Literatura

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