Abertura

O que eu sei, onde aprendi?

         Tem gente que nasce sabendo das coisas. São seres, em particular, que conseguem sentir cheiro de incêndio antes de todo mundo. Será mesmo? Serão informações privilegiadas recebidas no escuro de um soturno local, serão premonições, algum comunicado do além dizendo o que fazer e o que não fazer; o que será que essa gente tem que os outros não tem?
         No mercado financeiro, certa vez, fui fazer uma visita de cortesia a um amigo na bolsa de valores. Descendo de elevador, junto comigo vinha um grupo de jovens com suas gravatas largas, a última moda na época, discutindo sobre o que estava acontecendo com o mercado e essas coisas. Roupas novas, sapatos brilhando, aquele sinal de quem sabe tudo e está rico, às custas das suas expertises.
          Muito discretamente, passou por nós, posicionado no fundo do elevador, um homem com um terno não tão elegante, gravata meio fora de moda, cabelos grisalhos e olhar baixo.
          O meu olhar não pode deixar de comparar os dois grupos, no caso do segundo, um homem solitário, absorto em seus pensamentos. Não sei se por preconceito ou outra coisa me pareceu que aquele sabia das coisas, os outros estavam apenas aprendendo.
        Existe esse raciocínio de que temos que executar, colocar as mãos em alguma coisa para saber como ela funciona, um tipo de moto-contínuo dizendo que nesse aprendizado aprendemos a fazer as coisas que devem ser feitas.
          Claro, caímos na questão da experiência, e o que sabemos fazer, até hoje, foi porque aprendemos a fazer e erramos, muito.
         Chega a hora que já sabemos que alguma coisa vai dar erro. As armadilhas são sempre as mesmas. E por que, então, tantos caem nelas? Quem cai na armadilha é quem nunca aprendeu a se desviar dela porque teima em achar que está certo, e não vai aprender a fazer.
          Um esperto é um ser que procura e induz um pretenso esperto a fazer alguma coisa, em seu benefício.
       Recebi, um dia desses, no meu Instagram, um admirador dos meus textos me oferecendo criptomoedas. Um mercado que eu desconheço, mas eu conheço onde não devo entrar; naquilo que eu desconheço. Não desprezo o conhecimento do outro, mas prezo o meu. Aprendi que, para ficar rico no mercado financeiro, você tem que ter sorte ou ser muito rico para poder arriscar. Mas, sorte? É, sorte. Você faz as projeções, estuda seus gráficos, analisa o mercado futuro, ouve A, ouve B, lê fulano e beltrano e arrisca. Isso não quer dizer que você vai acertar. Isso significa que você precisa que todos os fatores que você pensou deem certo. E, se você tiver sorte, vai ficar tudo bem. Simplesmente porque você não ouviu deuses, você confiou em pessoas que têm, também, seus interesses.
        Quando trabalhava e lia os artigos de jornalistas/economistas entrevistando alguém do mercado financeiro, aconselhando isso ou aquilo, eu pensava se não seria possível um conselho desses para comprar de quem está fornecendo opiniões e direções ali, de graça. A experiência me ensinou que segredo é a coisa que se guarda quando você está ganhando. E, por que não, o entrevistado não estaria na ponta contrária, ou seja, precisando, desesperadamente vender e abandonar a posição, logo o conselho de compra não seria tão técnico assim.
         Desconfiar é um ato de pensar e fazer e faz parte do aprendizado. Foi aprendendo a fazer isso que aprendi a fazer as coisas, do meu jeito. Logo, se você vai tomar uma decisão, quer seja econômica, profissional, pessoal ou amorosa, a pergunta é se naquela seara você já transitou. Se não, bem você sabe que estará lá aprendendo a fazer, portanto não faça nada mais além daquilo que você conhece, mas para aprender tem que arriscar. Porque o que você tem é o que você aprendeu.
          Boa sorte.

Origem da foto: Foto de Element5 Digital na Unsplash

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Nilson Lattari

Nilson Lattari é carioca, escritor, graduado em Literatura pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, e com especialização em Estudos Literários pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Gosta de escrever, principalmente, crônicas e artigos sobre comportamentos humanos, políticos ou sociais. É detentor de vários prêmios em Literatura

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