Crônicas

O nó da garganta

       Como se desfaz o nó na garganta? Muitas vezes envolvido em um laço de seda, daquele tecido sedoso que muitas vezes encanta e incendeia, que vem atrás de um ramo de flores, ou de uma súbita declaração de amor, de afeto, de amizade.
       Como se desfaz um nó na garganta? Ao ver, emocionados os pais, entrar em uma catedral, entre os bancos, os filhos na direção de uma nova vida, e nesse momento passa um filme na cabeça da gente, e uma torcida diferente para que tudo dê certo, mesmo sabendo que a experiência de viver é o que é o certo, o viver, o experimentar, nem sempre traz o sucesso. Ou então vê-los subir as escadas na direção do diploma por tanto tempo esperado, sabendo das lutas, dos insucessos, das derrotas e das vitórias. Quanta história um nó na garganta encerra!
       Como de desfaz um nó na garganta? Ao ver um desastre iminente, e de tão apertado ele fica que somente um Oh!, pálido, escapa, como um fiozinho de esperança que se se desfaz no espaço.
       Como se desfaz um nó na garganta? Quando no último minuto, do último minuto de uma prorrogação o gol acontece, o pênalti se converte e, nessa hora, o nó se desfaz, e parece que o peito vai explodir, e qualquer abraço, vindo de qualquer lado, é comemorado.
     Como se desfaz um nó na garganta? Quando uma multidão do nada, uma juntada de gente começa a gritar e o inconsciente coletivo se desamarra e, finalmente, como uma jaula fechada por tanto tempo, uma pequena fagulha dispara o grito tão esperado de liberdade, como se ficássemos nus diante de todos, e descobrimos que pensávamos iguais, e apenas o medo é que mantinha apertado o nó feito de palavras censuradas, e as vocais finalmente timbram e vibram, gritando um nome, cantando um hino e as palavras perdem o sentido, e vão saindo pelo nó desfeito sem uma razão porque a coerência passa a existir.
        Como se desfaz um nó na garganta? Do barco do pescador perdido tanto tempo no mar que avista a terra, ou um outro barco em seu resgate, e na hora somente o abraço apertado como um nó feito de pele, carne e ossos, se aperta porque o nó ainda está lá dentro do peito e nem consegue chegar à garganta para desatar.
        Como se desfaz um nó na garganta? Com o medo a nossa frente, e somente o silêncio das esquinas e dos becos, das sombras, na perdida busca por abrigo, e o nó na garganta fecha a respiração para que até mesmo ela e o seu pequenino som não sejam capazes entregar nossa localização.
      Como se desfazer o nó da garganta, porque somente nela o grito pode parar, e a língua não consegue vibrar e dizer tudo o que estava guardado?
É saber que, apesar do nó da garganta, ela não pode ser a dona do nosso destino. Porque o medo, esse inimigo, não é capaz de impedir nosso corpo de seguir até o campo onde podemos gritar e ser: estamos vivos!

Fonte da foto: https://morguefile.com/creative/Alvimann

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Nilson Lattari

Nilson Lattari é carioca, escritor, graduado em Literatura pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, e com especialização em Estudos Literários pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Gosta de escrever, principalmente, crônicas e artigos sobre comportamentos humanos, políticos ou sociais. É detentor de vários prêmios em Literatura

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