O mito e a realidade: Hilda Furacão
O MITO E A REALIDADE: HILDA FURACÃO
Hilda Maia Valentim, que morreu em Buenos Aires, nesta semana, é uma daquelas personagens que dão vida à literatura sem ter vivido o fato retratado na ficção. Como as polêmicas que aconteceram nos imbróglios acerca das biografias de famosos, Hilda Furacão, a personagem, se apropriou de uma Hilda real, como nas palavras do autor “… ela se transformou em um boato. Um boato festivo, colorido, maravilhoso…”, e a vida real a tratou sem nenhuma consideração, com a morte solitária em um asilo público de um país estrangeiro.
Caberia ao governo interferir e repatriar a Hilda real? Caberia a um governo interferir na vida real por conta de uma personagem fictícia?
A literatura tem o que Umberto Eco falou do “imaterial”: alguma coisa parecida com o não estar lá, apesar de sabermos que por lá já passou. Teria o autor alguma responsabilidade sobre o que aconteceu com a personagem, a partir do momento em que se apropriou da sua vida real e construiu a ficção?
O domínio público, neste caso, é o imaginário que se criou em torno dela, no caso o boato, o tal boato colorido e maravilhoso, e, portanto, o escritor se apropria desse imaginário e não da vida real.
No caso das biografias, quanto de real e ficção existe? Quanto de imaginário o público tem da celebridade, e de quanto desse imaginário a celebridade se alimenta para manter-se no topo? E esse imaginário que se retroalimenta seria fator de censura ou remuneração?
Apesar do apelo público e da simpatia o mito e a realidade não se confundem. Quantas histórias são escritas, e são escritas a partir de um flash da realidade que o escritor captura. Histórias são criadas a partir da arte, que a vida imita e por si mesma é imitada.
Que Hilda Valentim repouse em paz, o mito continuará através da Hilda Furacão que nunca existiu.
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