Opiniões

O meu personagem de 2022: A democracia e o bife de ouro

        O ano de 2022 foi o ano da Copa do Mundo, dos hermanos naturalmente. Para nós não foi uma coisa boa, ou para o técnico da seleção restou ser assaltado e devidamente repreendido pelo assaltante.
       Mas o personagem central foi a democracia. Quando pensávamos que ela estava sucumbida, e com a possibilidade de morrer, eis que ela renasce. Claro que esse renascimento veio com as cicatrizes e o temor que ela não resista em uma segunda tentativa de destruí-la.
       Evidente que ela permaneceu nas bocas de vestimentas verdes e amarelas, usadas, naturalmente, com razões alheias a ela. Essa florzinha frágil teimou em guardar suas sementes na espera da oportunidade de alguém poder revivê-la.
     A democracia é a única oportunidade para que os desiguais tenham voz. E foram eles, e tão somente eles que a salvaram do descrédito e da prisão que muitos que não entendem seu significado tentaram colocá-la.
       Os personagens poderiam ser os maus perdedores, aqueles motivos de memes que, paradoxalmente, tornaram o final do ano um show repleto de stand-ups, no melhor molde seria cômico se não fosse trágico.
     A realidade revela o homem e o povo. Vivendo em um mundo paralelo, personagens tentaram alçar uma liderança pífia, com seguidores igualmente pífios, mas ferozes e muitas vezes chegando a um nível de agressividade que nos assusta.
      E esse é um dos motivos pelo qual o nosso personagem precisa ser protegido. A sanha daqueles que tentam sequestrá-la e, sob sua proteção, planejar atentados contra ela mesma ainda estão pelas ruas, bocas e esquinas, na espreita. Um ditador disse no passado que o preço da liberdade é a eterna vigilância. Hoje poderia ser o nosso personagem, tranquilamente, aquele que temos que manter eterna vigilância.
       Com a democracia tentaremos resgatar os reféns que ainda se encontram sob a mira danosa da hipocrisia e da falta de noção: nossa bandeira, nossas cores e nossos hinos. Eles voltarão com um pouco de vergonha e os nossos encontros estarão cheios de constrangimentos; nessa mania que nós temos de culpar as vítimas pelo mal que sofreram. Nos questionaremos, iniciaremos a vestir e a ver com brilho esses reféns que voltarão a ser limpos, higienizados e purificados pela nossa vontade de ser livres para ser o que queremos ser.
      Democracia é como a vacina que de tempos em tempos tem que ser inoculada para combater o vírus persistente da ignorância e da truculência. Que, no final das contas, virou um gatinho chorão lamentando que não encontrou adeptos suficientes para sua sanha, contrastando com um passado recente onde as bravatas povoavam o entorno da democracia que lutou insana contra tudo isso que estava aí.
      Hoje identificamos, claramente, quem não gosta de democracia entre os mais íntimos de nós e nas conversas com estranhos. O adepto da democracia não precisa demonstrar o que é na essência, o inimigo grita tentando achar uma razão para ser o que é.
       O inimigo da democracia desafia dizendo que somente abandona seu cetro de papel se morto, vitorioso ou preso. A última seria impossível e a resposta foi um choro de criança que perdeu o brinquedo preferido.
       Temos heróis, sem dúvida, e eles estão nos lugares mais pobres, nos lugares mais longínquos e na mesa tem a falta de comida e esperança por companhia. Porém a perseverança em acreditar que somente vivendo em harmonia poderemos superar nossos problemas.
     E o bife de ouro? Ele não tem nada a ver com a democracia. É só um penduricalho para mostrar que tem gente que vive para ele, tendo ou não dinheiro para gastar, e pouco está se importando com o nosso personagem de 2022.

Origem da foto: Photo de Gayatri Malhotra sur Unsplash 

VOCÊ CHEGOU ATÉ AQUI. SE GOSTOU, ENTÃO CADASTRE-SE POR E-MAIL OU NAS NOTIFICAÇÕES. E RECEBA NOVOS POSTS

Views: 36

Nilson Lattari

Nilson Lattari é carioca, escritor, graduado em Literatura pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, e com especialização em Estudos Literários pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Gosta de escrever, principalmente, crônicas e artigos sobre comportamentos humanos, políticos ou sociais. É detentor de vários prêmios em Literatura

Obrigado por curtir o post