Opiniões

História: o espelho de mil faces

        O passado pode ser um espelho, a cada vez que nos deixamos mirar nele podemos ver as pessoas diferentes que nós somos. Na História, o passado também é um espelho, tendo em vista que o estudo da História parece sempre estar modificando alguma coisa, não as descobertas que mudam o curso e o entendimento dele, mas o espelho parece que tem um artesão, sempre pronto para brilhar uma parte ou tornar opaca a outra.
        As duas partes podem ser descritas como aqueles que contam a História, e aqueles que se calam, porque não tem espelho para contar a sua História. Porque a História tem dono, é daquele que pode subir no púlpito e contar a sua versão. E hoje, a verdade histórica, se é que podemos falar assim: verdade, assume algo que seria inimaginável há pouquíssimo tempo atrás, a pós-verdade. Essa forma de recontar a História, principalmente por aqueles que são a bola da vez para contá-la.
       Tornar opaco o espelho da História traz muitos benefícios, e colocar o falso brilho faz parte de revirar o passado e partir de uma premissa falsa para alcançar corações e mentes, já preparados e limpos para receber a informação, movidos por algum tipo de sentimento, fazer o passado se revirar e se recontar, e, portanto, a História é o passado revisitado e revirado, torturado até que as verdades futuras sejam recontadas. Ou seja, a História é o passado e o presente sob uma nova direção. E o futuro? É esse presente que vivemos a limpar corações e mentes.
        É revoltante saber que a História está sendo recontada e muitas testemunhas vivas estão aí para dizer as coisas como realmente aconteceram. É claro que os acontecimentos nos afetam e são interpretados a partir da nossa visão de mundo. O burburinho de informações é tanto, que o cínico que vai para a frente de uma câmera de televisão, para a mesa de um bar ou numa conversa informal, é capaz também de distorcer os fatos, apenas para que ele caiba na forma de pensar. A coisa vai do “não foi bem assim”, e hoje para a falácia do “foi fora do contexto”.
        Os desmentidos através das tecnologias modernas já não assustam os mentirosos, até porque se deixar quieto todo mundo esquece, porque a notícia da hora já vai ser atualizada, e a outra já é passado, ou então os contadores da História da vez, apenas reagem com um sorriso cínico, sabendo que outros sorrisos cínicos lhe darão a razão.
       E o barco segue, por mares nunca dantes navegados, e sempre vai existir uma calmaria para justificar o que se quer fazer e já está determinado.
Fonte da foto:https://morguefile.com/creative/lisaleo
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Nilson Lattari

Nilson Lattari é carioca, escritor, graduado em Literatura pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, e com especialização em Estudos Literários pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Gosta de escrever, principalmente, crônicas e artigos sobre comportamentos humanos, políticos ou sociais. É detentor de vários prêmios em Literatura

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