Crônicas

Eternífluo

        Em contato com essa palavra, me chamou a atenção o que seria o seu significado. O nome me pareceu imaginativo, chamativo, essa junção da eternidade com a fluidez. Eternífluo significa, exatamente, essa fluidez eterna. Portanto, imaginar algo que flui eternamente tem uma magia, tem uma mágica impressionante. Além do valor poético do termo: eternífluo.
       Como todas as palavras, elas cabem em qualquer contexto, desde as coisas boas quanto às coisas más que vão fluindo por aí, eternamente, como a inteligência que vai penetrando nas cabeças e vai espalhando o conhecimento. E nas coisas más, na ignorância que, no caso, ela boia mesmo, porque têm certas coisas que não afundam… e cheiram, fluindo no ambiente.
         Eternífluo pode ser aquele discurso modorrento, que vai dando aquele sono e aí, realmente, a gente entra no vagar da abstenção da realidade. E ele, também, pode ser aquele ir e vir, dizer e desdizer que vai se eternizando e enchendo o saco da gente, como os políticos que voltam para prometer as mesmas coisas que eles juraram, antes, que realizariam.
        Eternidade, de fato, é algo entediante. Tipo ficar lendo as mesmas bobagens e argumentos inundando as redes sociais, não importando os fatos novos. Aquela bitolação eterna, os antolhos doutrinando tudo. Acho que essa eternidade tem uma função tático-social importante de manter o nível de ignorância em modo aceitável. É claro que algumas vezes transborda e foge ao controle. É o caso da fluidez que vai por aí e não afunda. Sendo constituído, assim, o problema de como colocar isso tudo de volta; tipo arrumar a bagunça.
      A fluidez tem uma outra conotação. Porque esse fluxo precisa de espaços. E espaços é o que não faltam em mentes que, quando solicitadas para refletir, mostram um deserto, aquela eternifluidade (essa nem existe, mas eu gosto mesmo assim) que vai desembocar em lugar nenhum.
      Existe, também, o eternífluo proposital. Corroborando o parágrafo anterior, são os espaços que não se enchem, são repletos de vazios, mas é proposital, porque contém os argumentos despropositados. No caso dos espaços vazios, é impressionante como a ignorância consegue preenchê-los com seus atributos.
       Como no caso de um internauta, no caso aquele que vaga pela internet, eternamente, porque a vida se resumiu a isso, um internauta eternífluo em um post sobre a extinção dos dinossauros, dizendo que eles não acreditaram na Palavra, outro disse que os dinossauros não falavam, mas ela disse que eles entendiam muito bem. Fico imaginando que os dinossauros provocaram um suicídio coletivo, imaginando o que estaria por vir.
       Logo, essas coisas que ficam boiando por aí, esbarrando em alguns pontos ao sabor da corrente, é algo eternífluo e desde o sempre estiveram por aí e não vão embora facilmente.
       Romper com esse eterno tem a sua importância, nos retira do marasmo. Eternífluo é uma palavra poética, criativa e cativante, o que assusta é essa eternidade e a fluidez que nos levará não se sabe onde. 

Fonte da foto: Photo by Jesse Collins on Unsplash

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Nilson Lattari

Nilson Lattari é carioca, escritor, graduado em Literatura pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, e com especialização em Estudos Literários pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Gosta de escrever, principalmente, crônicas e artigos sobre comportamentos humanos, políticos ou sociais. É detentor de vários prêmios em Literatura

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