Vamos invadir sua (?) praia
Infelizmente, os arrastões irão dominar novamente os verões do Rio de Janeiro. A praia será invadida. Contra eles, insurgem os justiceiros, naturalmente na busca da justiça que seria a volta da praia tranquila, própria para banhos das pessoas bem comportadas, ou o que isso quer dizer, dos moradores do bairro e turistas.
A Justiça parece, muitas vezes, uma vingança, em menor ou maior grau, contra um estado de anormalidade. Ao restabelecer a justiça que é o pertencimento da praia para aqueles que sabem se comportar nela, e, portanto, o estado de normalidade, não resolve, porém, o estado de injustiça que existe nesta suposta normalidade.
Um arrastão não se estabelece sem motivo. Um grupo de jovens, definidos como pretos, pobres, a portar uma sunga e sem dinheiro, não resolve, em um grupamento expressivo de pessoas, causar constrangimentos morais e materiais aos frequentadores da praia, a troco de nada. Assim como, um grupo de jovens, definidos como brancos, de classe média, a portar suas roupas de marcas e com dinheiro no bolso, resolve causar os mesmos constrangimentos morais e materiais aos frequentadores da cidade, quando decidem subir os morros na busca por drogas, ou se organizando em pequenas quadrilhas, acobertadas por advogados bem pagos, a provocar “zueira” nos bares pela noite, ou pequenos furtos, não merecem passar impunes. Eles também são os causadores de arrastões, por tabela, que atormentam nossas praias, nossos bairros, nossas cidades e nosso país. Os pedidos de linchamento e o fechar os olhos para outros delitos são pontas que acabam se encontrando, e a sociedade acaba pagando um preço.
Fotos são tiradas dos prédios dos apartamentos, com o desfilar desses jovens negros e pobres, como a sugerir a alguém, mais arrojado, a abatê-los a tiros, mas, o mesmo não aparece em jornais e redes sociais, de jovens bem vestidos a subir os morros para financiar a verdadeira praga social – as drogas.
Talvez, logrando êxito nas praias, os justiceiros venham a ser aplaudidos pelas janelas em um panelaço comemorativo, por terem restabelecido a justiça, ou colocado a injustiça no seu devido lugar, longe das praias.
Quando professores saem às ruas, lutando por justiça e melhores condições de trabalho, e salários dignos, e são reprimidos pelos justiceiros, desta vez, policiais pagos pelo Estado, as janelas ignoram os atos, preferindo aplaudir a atuação de magistrados, na caça aos corruptos, que resolveram invadir a praia de alguém, e no justiçamento, preferencialmente, de pretos e pobres ou, talvez comunistas.
Quando a sociedade prefere pagar um pouco mais de mil reais a professores, sem condições de trabalho, que tentam levar jovens de camadas populares para uma vida intelectual que lhes dê condições de sobrevivência, e aplaudem magistrados que julgam estes mesmos jovens, pretos e pobres, ganhando vinte ou trinta vezes mais, para mandá-los para a cadeia, nas palavras do Prof. Écio Antonio Portes, em seu artigo Notas acerca da escola pública, no blog, “É essa opção de país que estamos construindo. A níveis médios, o salário de um juiz de direito daria para pagar o salário de dezenove professoras alfabetizadoras do município de Dores do Campo.” a sociedade que clama por justiça já fez sua escolha, a única condição é viver encarcerada em condomínios fechados, com muros de concreto ou morais, lembrando dos desprovidos apenas quando resolvem invadir “sua” praia.
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Muito bom, Nilson, parabéns.