Crônicas

Uma questão de fé

        A fé remove montanhas, diz o pensamento. Ela é capaz de retirar os obstáculos que temos pela frente. Pode nos mover para diante, nos motivar, nos trazer alentos em dias difíceis. Fé é única? Cada um tem a sua?
       Basicamente, a fé tem sua origem na religião, em sua maioria. Cremos, acreditamos em um ser superior, que vive em um espaço divino que, ao acreditarmos nele, sem condicionantes, essa fé será capaz de nos levar a ultrapassar os obstáculos da vida.
      Estabelecemos a fé como sendo duas coisas, por exemplo. Aquela que se refere a crer em um ser divino que pode nos ajudar ou nos consolar nos momentos difíceis, na crença que dias melhores virão, e que as montanhas fiquem longe de nós. Também podemos sentir fé em nós mesmos. Em nossa capacidade de conseguir superar os obstáculos para poder sobreviver ou vencer na vida, na conquista de novos patamares sociais, reconhecimento e essas coisas. Está nos anseios por vencer na vida, melhorar e viver dias melhores.
        No entanto, existe uma outra fé extremamente perigosa. E essa fé está inserida nas duas nuances. Ela contamina dois lados, sem dar nenhuma chance de reparação.
      Quando acreditamos em alguém, alguma coisa, colocamos, como se fosse o ser divino, nossas esperanças em suas mãos. Em um ser divino, o que é um fato dignificante, nos colocamos mais além da nossa imaginação, no infinito, no imponderável etc. Mas acreditar em alguém tão terreno como nós, e acreditar em símbolos que criamos reúne uma química explosiva. Ao seguirmos uma determinada liderança ou uma ideia qualquer, seja religiosa, política, social ou que seja, colocamos nossas esperanças em alguém ou objeto tão falível como nós mesmos.
      E se depositamos essas esperanças nesse tipo de deus ou líder, o perigo está na nossa ambição de criar um mundo ao nosso molde e conteúdo. Ou seja, contabilizamos uma ideia de mundo dentro de nós e procuramos aquele ou aquilo que vai verbalizar isso, em alguém ou objeto que fale por nós.
       Para isso, é necessária uma dose de ignorância, resultado perfeito, simbiose perfeita entre pilantras milionários e donos de carismas suspeitos e miseráveis e fiéis, juntos com hipócritas não tão miseráveis.
      É um tipo de fé que seria a fé na ignorância. Fé na sua ignorância, por ignorar os fatos e acreditar naquilo que pode verbalizar desejos. Fé na ignorância de muitos e conseguir adeptos que engrossem as suas massas e a fé de que ninguém vai entender aquilo como ignóbil, horroroso ou desumano.

Origem da foto: Foto de Ben White na Unsplash

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Nilson Lattari

Nilson Lattari é carioca, escritor, graduado em Literatura pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, e com especialização em Estudos Literários pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Gosta de escrever, principalmente, crônicas e artigos sobre comportamentos humanos, políticos ou sociais. É detentor de vários prêmios em Literatura

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