Um conselho do travesseiro
Um travesseiro, segundo o dito popular, é o melhor conselheiro. Existem dúvidas? Por sinal, assim como cada conselho é uma sentença, cada conselheiro tem uma característica própria. Tem o paciente, tem o impaciente, tem aquele que nos ouve e não dá palpite, tem aquele que nem bem falamos já vai dando o prognóstico, a solução. Tem aquele que ouve pacientemente e no final diz: é a vida, imagine o que aconteceu comigo! E daí começa a desfiar o seu problema, invertendo a situação de conselheiro; tem aquele que ao acabar de ouvir nos diz simplesmente, “deixa disso, vamos lá tomar umas e acabar a noite…”, sei lá!
Afinal, o que é um bom conselheiro? Um travesseiro, como foi dito anteriormente. Mas, um travesseiro duro, desses pequeninos, clássicos em hotéis de categoria inferior que nos faz acordar com umas boas dores nas costas? E um médico, ou um analgésico, torna-se a melhor solução e melhor conselho?
Ou um travesseiro mais molinho, desses grandes, aconchegantes, que a cara da gente afunda e nas laterais cria aquela barreira e nos dá a impressão de um afogamento em plumas?
Como se pode pedir conselhos a esses sujeitos? Se fossem bons eram vendidos; e são, na verdade. Aí está um paradoxo.
Pois o João decidiu pedir conselhos para comprar travesseiros que melhor lhe aconselhassem. O vendedor achou estranho porque nunca se detivera em enunciar aquele tipo de qualidade em travesseiros, do qual se julgava um especialista, e pensou que poderia ser uma boa estratégia de vendas aos compradores na compra daquele produto.
Pronto! Um conselheiro para vender supostos conselheiros, de alcova. Sim, porque um travesseiro é utilizado em alcovas, quartos, mas alcovas lembram aquela coisa de escondido, de malicioso, de confessionário. Logo, podemos confessar coisas inconfessáveis a eles? Mas como pedir conselhos?
Então o João, o nosso amigo, decidiu se aconselhar com seu travesseiro. Confessou que estava amando, e como poderia ele se chegar ao seu objeto de desejo? Bolou várias estratégias, mas, o travesseiro somente ouvia. O João revirava de um lado, revirava de outro e o conselho não vinha. Pelo menos os conselhos que seu cérebro elaborava, descansado no travesseiro, não eram dos melhores. De todos eles, João sempre objetava alguma coisa, que no fundo revelava a sua total impotência, nesse caso, ainda na parte operacional do discurso, sobre as maneiras de abordar tão doce e amada criatura.
Imaginou o que poderia acontecer se viesse a conquistar a moça. Como seria conhecer sua casa, seus pais, se gostariam dele, como ele falaria de seus projetos, como poderia conseguir uma casa, essas coisas.
Mas, de repente, João lembrou que ela já tinha namorado o Pedro, do almoxarifado, o Cazuza, da contabilidade, e que tivera um caso, embora não confirmado com o gerente de distribuição, que não se sabe por que (situação a confirmar) fora transferido para uma outra filial. Ah! Ela sempre falava dos problemas dos pais, um irmão meio destrambelhado…
João aconchegou o travesseiro para perto dele, olhou bem e pensou que talvez aquela moça não fosse tão prendada assim para que ele perdesse o seu sono.
Pensando bem… uma boa noite abraçado com seu travesseiro preferido seria bem melhor. Mas, chegando àquele macio de plumas, bem que poderia, pensou ele, chamar a moça para uma namoradinha. Não faria mal a ninguém. E ela poderia, quem sabe, conhecer o seu travesseiro.
Fonte da foto: https://morguefile.com/creative/PenMac
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