Crônicas

Se o amor envelhece

        Conhecemos a expressão amor maduro, conhecemos a expressão amor não tem idade. Nelas, o amor se enquadra no tempo. No tempo decorrido, na passagem do tempo pela vida amorosa ou a nossa vida amorosa que passa pelo tempo. Poderia dizer que amor é experiência. Quanto mais se vive mais se aprende sobre o amor. Ou, quem sabe, nós desaprendemos sobre ele. E quanto mais temos contato com ele, mais surpresas ele nos traz.
        É claro que estou falando de amor e não de paixão. Esse tipo de amor, esse cheiro de amor, essa brisa ou essa tormenta do amor que avassala os corações e faz com que amantes se lancem em uma fúria incontrolável para saciar uma sede que tem fim. Sim, uma tormenta passa e tem fim. Mas não abole a constância das tormentas que de tempos em tempos vão chegando e vão nos deixando.
        Um casal de apaixonados pode amar muito e com o tempo esse amor vai se transformando em um carinho, uma vida de amizades, cuidados e no final o amor já não é o mesmo. Portanto, o amor pode não ficar velho e ser um menino, eternamente, e, como menino, como uma criança merece ser cuidado, educado, guiado. Algumas vezes é birrento, mesmo na tenra idade, quando surge, e na idade mais avançada quando, supostamente, amadurece.
       Se fosse uma fruta ao amadurecer teria realizado seu papel que é de abandonar a árvore que o acolheu, o ramo que o sustentou por longo tempo e, finalmente, voltar ao início de tudo e começar o ciclo do amor entre outros.
        Seria o amor o mesmo para todos?
       Quando chegamos ao nosso futuro e fazemos o balanço de nossas vidas, talvez compreendamos que confundimos amor com paixão e talvez um sentimento de mágoa nos acometa. Fiz o possível para ser amado e fiz o possível para amar alguém?
        Todos, neste sentido, pediriam uma segunda chance. Dizendo que cometeram um equívoco. Não seria com aquele alguém que deveríamos estar, porque foi fruto de uma paixão, essa coisa momentânea, tormenta e temporal em nossas vidas e fomos tragados pelos ventos e água que rolaram, deveria ser o outro.
       Ao chegar no futuro compreenderíamos, finalmente, o amor? Será que quando nós, efetivamente, nós ao envelhecer compreenderíamos o real sentido do amor? E, portanto, o amor não envelhece, mas o exercício de uma paixão nos fez envelhecer para compreender essa vida de menino?
         O amor não é para qualquer um. É para todos. Todos aqueles que decidem olhar para ele envelhecem quando o encontram.
       Sucessivos amores ou paixões nos tornam mais maduros e experientes. Outros não se tornam, ficam meninos para o resto da vida. O amor envelhece com o tempo, ou porque ele passa como o tempo, nuvem passageira, tormenta. Ou de tanto nos atormentar nós nos esquecemos dele e, portanto, amadurecemos para a vida.

Origem da foto: Foto de Jake Thacker en Unsplash 

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Nilson Lattari

Nilson Lattari é carioca, escritor, graduado em Literatura pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, e com especialização em Estudos Literários pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Gosta de escrever, principalmente, crônicas e artigos sobre comportamentos humanos, políticos ou sociais. É detentor de vários prêmios em Literatura

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