Crônicas

Quem ama, não mata

        Essa frase surgiu dentro de um movimento criado em Belo Horizonte – Minas Gerais, e, inclusive, foi tema de uma minissérie na televisão, a respeito de feminicídios. Sim, nada é mais verídico que isso, ninguém pode ser eliminado, fisicamente, por conta de desavenças, desencontros, ciúmes ou, simplesmente, por se julgar o dono do companheiro ou companheira.
        A morte, no entanto, a eliminação do outro ou outra não, não passa, tão somente, pela parte física. Assim como não se mata por amor, ou suposto amor, também não se matam os sonhos de alguém, por conta dos mesmos argumentos do parágrafo anterior.
       A morte dos sonhos tem um significado amplo, porque envolve as possibilidades e estratégias que alguém tem na vida. Muitas vezes, por conta de um relacionamento, um dos companheiros abre mão desses sonhos. É claro que, muitas vezes, abrir mão de sonhos também envolve as dificuldades da vida, a lide com os filhos, enfermidades, enfim, uma quantidade grande de eventos que foge ao controle das pessoas.
       A luta em conjunto envolve uma importância muito maior entre companheiros, nos casamentos e relacionamentos. Ambos devem lutar por seus sonhos e se ajudarem mutuamente, ou se não podem, pelo menos não devem atrapalhar a caminhada do outro.
     Nesses tempos pós-modernos, as mulheres, cada vez mais, alcançam posições que podem estar em superioridade aos companheiros. Essa inversão de papéis causa um pouco de ciúmes e inseguranças. Ao contrário de tempos idos, onde as mulheres, culturalmente, tinham o papel de lidar com a casa, davam ao homem uma certa liberdade de andar pelas ruas, enquanto a companheira era prisioneira no padecer do paraíso.
     Essa inversão de papéis causa um outro aspecto de matar, quando se tolhe a possibilidade do outro seguir um caminho próprio e, muitas vezes, próspero. Afinal, a inteligência, perspicácia, expertise não são mais os privilégios dos homens; há competição na área.
     Ouvi, uma vez, a expressão de que se você quer ser feliz não se case, só se case para fazer o outro feliz. Isso tem uma importância grande, porque a maior prova de amor é o sacrifício de um sonho para o bem do outro, no passado, e, hoje, essa prova é incentivar o outro a ser o que queira. É satisfazer ou proporcionar que esse sonho se torne realidade, sem medo, sem ciúmes, apenas por amor.
     O trabalho de um homem ou de uma mulher são muito importantes, porque pode ser a realização de uma vida de sonhos, independente de os sonhos envolver, também, alguém para amar e ser amado. Uma combinação perfeita: ter o trabalho dos sonhos e voltar para casa e abraçar a quem se ama, ou esperar quem se ama chegar do seu trabalho dos sonhos.
     Os dois conversarem sobre o que fazem, receber cumprimentos ou dar consolo para vitórias e derrotas fazem parte desse cotidiano onde não se mata, seja porque motivo for.

Origem da foto: Foto de Jeff Tumale na Unsplash

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Nilson Lattari

Nilson Lattari é carioca, escritor, graduado em Literatura pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, e com especialização em Estudos Literários pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Gosta de escrever, principalmente, crônicas e artigos sobre comportamentos humanos, políticos ou sociais. É detentor de vários prêmios em Literatura

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