Crônicas

Procura-se: alguém bonito, inteligente, compreensivo e… disponível

        Imaginemos o anúncio dessa forma, colocado em um jornal, ou em um site de compras, ou mesmo nos achados e perdidos de algum lugar.
      Existe um erro nas qualidades expostas, que o ser esteja disponível. A beleza está em todo lugar, ou mesmo no espanto de descobrir que ela sempre esteve ao nosso lado. A inteligência, muitas vezes, depende do que achamos que seja; inteligente para descobrir nossas peculiaridades, desejos encobertos, para saber fazer bons negócios para o progresso financeiro da família, inteligente para quê? A compreensão reside em ouvir calado ou calada nossas queixas, ou ser compreensivo ou compreensiva o suficiente para sacudir a barraca e acabar com o furdunço, nos trazer para a realidade?
        E …, disponível. Como seria estar disponível?
      Ao responder uma pergunta minha sobre a sua solteirice, após um divórcio, certa amiga me disse: os bons já estão ocupados e eu não teria a coragem de roubá-lo de alguém.
      O que ela quis dizer com isso? Os casamentos duradouros é que prendem os disponíveis? E quando um longo casamento acaba o indisponível passa a disponível, por quê?
       Voltando ao lugar comum: a resposta está nas perguntas que fazemos, e sobre o que queremos, ou definimos como bonito ou bonita, inteligente ou compreensivo ou compreensiva?
       Há seres que arriscam para alguém se disponibilizar, há seres que se acautelam e observam a disponibilidade. O problema está na procura ou na disponibilidade a que nos propomos ser? Afinal, devemos procurar o disponível ou ser o ou a disponível, sendo bela ou belo, de forma que inteligentemente causemos espanto e sedução, curiosidade, e um belo chute no balde da compreensão, porque quem procura compreensão precisa mais de um atendimento terapêutico do que propriamente viver um amor.
      Um amor não precisa de compreensão para nascer, precisa de uma certa beleza. Quer seja de caráter, de um sorriso no rosto, de uma alegria, de uma conversa inteligente, e de um mesmo fazer igual para todos na forma de amar. Mas, e aí, penso eu, o grande segredo: o fazer igual de um jeito que eu nunca vi. E isso, com certeza, todos compreendem. O resto é estar disponível.

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Nilson Lattari

Nilson Lattari é carioca, escritor, graduado em Literatura pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, e com especialização em Estudos Literários pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Gosta de escrever, principalmente, crônicas e artigos sobre comportamentos humanos, políticos ou sociais. É detentor de vários prêmios em Literatura

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