Crônicas

Primeiro de janeiro de 2020

        Começou um novo ano que se repete há muitos anos, mas, não se engane, é a mesma e velha quarta-feira que figura em todos eles. Não haverá nada de novo, a não ser para o ganhador ou ganhadores da mega-sena que, com certeza, viverão novos tempos pela frente. Para os outros, que não a ganharam, novas esperanças, esperando virar o próximo ano ou mês, com uma real diferença monetária no bolso.
       Nada de novo no horizonte. Não, os problemas não desaparecerão, e com eles nem as preocupações. O mundo não está para amadores, e nem para os amantes ancorados na esperança. Tempos duros, iguais aos dos anos velhos e moribundos.
        Mas, calma, nem tudo é coisa triste. Haverá momentos de alegria, como a vitória do seu time, ou, pelo menos, aquele time não vai conseguir ganhar do seu. E você terá um argumento na manga para justificar por que o seu não chegou lá. Haverá algum nascimento que vai te alegrar. Haverá alguém na sua vida que vai mudar sua forma de pensar, de amar, de enxergar. Se não aparecer, é porque você está bem na fita, você já tem, ou simplesmente você está se lixando para quem queira te ensinar alguma coisa, e, lá pelo meio do ano, você continua cometendo as mesmas bobagens que você jurou quando pulou as sete ondas e comeu lentilha, jurou, por todos os juros, que não ia fazer. E fez porque você é assim, meio burro, meio teimoso, ou porque acredita que vai dar certo, em um ano novo desses que vem, inexoravelmente, por aí.
        Você vai ler as previsões daqueles que lerão os búzios, cartas de baralho, bolas de cristal, colocarão a mão na testa, achando que pode acontecer isso ou aquilo, e, se tiver a curiosidade de ler o que eles acharam que ia acontecer, nos anos anteriores, vai notar que tem uma dança das cadeiras nos videntes: alguém sempre acerta.
       É um novo ano e você vai mudar a data no cheque, no contrato e o tempo vai fluir, sem se importar com isso. O tempo passa e voa, portanto, olhe a paisagem em volta, conheça outras pessoas, e fique na janela, não perca nada.
        O ano é novo? Então não se comporte como um velho.
       Você quer mudar de vida, de emprego, de casamento, ter outros. Lembre-se: você não está sozinho e todos querem a mesma coisa, menos para aqueles que se mudarem estragam tudo. Então, se você tem uma coisa boa, que você acha que é o mesmo e te pareça um saco, cuide-se, você pode estragar tudo.
         Se você pensar bem, tudo aquilo que você dá valor tem valor, realmente, para você, ou, simplesmente, você valoriza porque outros dão, ou convenceram você que é valioso?
        Esse é um caso para se pensar. Tudo o que você valoriza, realmente tem valor? E que valor é esse? Quem atribuiu esse preço? Você precisa carregar esse custo? Por que você comprou? A ideia, o carro, a casa, o eletrodoméstico, por que você fez isso? Isso satisfez você? De verdade? E por que esse objeto, esse ser jaz em um canto, que faz com que você não se interesse mais por ele? Talvez ele seja o motivo para que você queira mudar.
         As primeiras decisões ruins são fruto da nossa inexperiência, as que se seguem, sendo as mesmas, têm outro nome.
        Não, não vou cair no lugar-comum que fará você tomar grandes decisões, grandes projetos. Não vou dizer isso, até porque não acredito. Se você não dá valor e não sabe administrar o mil, nunca vai dar valor e administrar o milhão. Logo, a mega-sena pode vir a ser um problema, e não uma solução.
        Faça uma coisa bem difícil. Você quer ser rico, então defina o que é riqueza. Caso você não consiga aquela da mega-sena, e é bem provável que não, você terá um ano novo bem difícil se quiser tê-la. Você quer ser feliz, então defina o que é ser feliz. Caso você não consiga, e etc, etc. É só substituir e pronto.
         Também você não precisa se contentar com o que tem. É justo que você queira um pouco mais. Faça um esforço para melhorar, intelectual, profissional e espiritualmente. Deus não vai te dar um carro, uma casa, dinheiro, até porque ele não é fabricante e nem administrador de nenhuma dessas coisas, e ele, tampouco, as inventou. E por que as inventaria? E por que ele atenderia somente a você, e não àquele que está dormindo nas ruas? Que privilegiado você pensa que é?
         O ano novo está aí, com os mesmos velhos dias, e os mesmos prazos que vão chegando, tic tac, tic tac.
        Faça uma coisa nova: pense. Pense como você e não, de jeito nenhum, imagine que um coach, um guru vai resolver sua vida. Se você vai atrás de um, vai resolver a vida dele. Novamente, PENSE.

Fonte da foto: https://morguefile.com/creative/FidlerJan

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Nilson Lattari

Nilson Lattari é carioca, escritor, graduado em Literatura pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, e com especialização em Estudos Literários pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Gosta de escrever, principalmente, crônicas e artigos sobre comportamentos humanos, políticos ou sociais. É detentor de vários prêmios em Literatura

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